Benedicto Ottoni

Este conjunto de livros, formado por cerca de 12.600 obras sobre o Brasil Colônia e o Brasil Independente, pertenceu ao colecionador e bibliófilo José Carlos Rodrigues (1844-1923). A denominação de Coleção Benedicto Ottoni foi a segunda condição imposta pelo industrialista Júlio Benedicto Ottoni, que adquiriu a biblioteca em venda pública e a doou integralmente à Biblioteca Nacional (BN), em 1911. A primeira condição foi que a coleção fosse mantida em local especialmente separado, “não podendo ser desmembrada para diversas salas da BN, exceto as obras valiosas que deveriam ser guardadas sob chave”.

Mas o nome de José Carlos Rodrigues não ficou totalmente excluído de seus livros. Lê-se nos ex-libris colados a cada um dos objetos do conjunto “Collecção Benedicto Ottoni // Organizada pelo Dr. José Carlos Rodrigues // Doação do Dr. Julio Benedicto Ottoni”.

 

A história da doação

Qualificado pelo Jornal do Commercio de 8 de Julho de 1911 como um “donativo régio” e tido como inferior apenas à doação que dom Pedro II fizera em seu exílio, o gesto de Julio Ottoni foi considerado, à época, um dos acontecimentos mais notáveis da história da BN e conferiu ao doador a reputação de ser um dos maiores benfeitores do estabelecimento.

Preocupado com o fato de estar ganhando mais destaque do que o colecionador, Julio Ottoni escreveu um desabafo ao redator do Jornal do Commercio, relatando as circunstâncias de sua oferta à BN. A carta menciona o porquê da doação, o destino do dinheiro pago pela coleção – que seria um hospital para crianças inteiramente feito às expensas de José Carlos Rodrigues, a preocupação do colecionador com o destino e a unidade de suas obras, por ser solteiro e sem filhos. O texto cita ainda que o governo de Afonso Pena pleiteou um crédito para adquirir a coleção, que não chegou a ser votado pela Câmara dos Deputados, e que Rodrigues recebeu uma proposta elevada de uma biblioteca nacional estrangeira, mas não aceitou.

Sobre José Carlos Rodrigues

Entre 1870 e 1879, Rodrigues editou nos Estados Unidos uma folha ilustrada, escrita em português, chamada ‘O Novo Mundo’. O periódico teve influência entre os brasileiros e publicou, em 1873, um importante texto escrito por Machado de Assis, apontando os limites do Romantismo no Brasil e novos caminhos a serem explorados.

Com a extinção de sua folha ilustrada, o colecionador mudou-se de Nova Iorque para Londres, onde além de visitar os ilustres livreiros e antiquários do Velho Mundo, foi intermediário do governo brasileiro na obtenção de empréstimos bancários para a construção de ferrovias.

Em 1889, associado a outros investidores, José Carlos Rodrigues adquiriu o Jornal do Commercio, que conduziu por 25 anos. Habituado a redigir várias notícias por dia, ele aproveitava o espaço cativo de seu jornal para divulgar algumas de suas próprias reflexões, demonstrando seu envolvimento com assuntos de aprofundada erudição.

 

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