Poucas personagens da História do Brasil cativam mais do que Leopoldina, a primeira esposa de D. Pedro I. As biografias sobre ela deixam nos leitores um rastro de ternura, de respeito e de admiração. Sua trajetória nem de longe se assemelha aos tradicionais contos de fadas e sua história é de uma mulher cujo amor nunca fora correspondido à altura, mas que, nem por isso, perdeu o viço de estadista e o senso de responsabilidade política para com a sociedade que a acolhera como autêntica brasileira. A relação de Leopoldina com o Brasil começou a ser tecida por meio de acordo matrimonial entre o governo português e o austríaco. Em novembro de 1817, a jovem austríaca chegaria ao Novo Mundo e, até 1826, ano em que veio a falecer, Leopoldina passaria a ser alvo da imprensa brasileira que, por meio de seus jornais, não tardaria em noticiar momentos importantes ligados a sua vida no Brasil. Acessar as notícias que foram publicadas sobre Leopoldina, no decorrer dos anos em que a jovem viveu no Brasil, possibilita o entendimento da relação que se construiu entre ela e o povo brasileiro no contexto da independência, uma vez que a imprensa reflete valores da sociedade na qual se encontra inserida.
Amélie Auguste Eugénie Napoléone de Beauharnais, princesa de Leuchtenberg (1812-1873), segunda esposa do imperador D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal), é uma das figuras femininas esquecidas em meio à turbulência política do século XIX. A apresentação a seu respeito na série "200 da Independência" visa a traçar o percurso biográfico da imperatriz do Brasil e suas andanças pela Europa e no Brasil, num momento de transformações sociais e políticas promovidas pelo liberalismo e nacionalismo. A intenção é delinear, por meio da correspondência passiva e ativa, o movimento do espírito de uma mulher envolta pela trama da vida. Desde cedo, a jovem Amélia de Leuchtenberg foi instada a enfrentar desafios como o casamento com um monarca viúvo, pai de cinco filhos e com uma reputação de amante incorrigível. Destemida, ela enfrentou o Oceano Atlântico e as dificuldades que emergiram, carregando no peito a saudade. Pouco tempo duraria o seu reinado nas terras tropicais. Após a abdicação de D. Pedro I (1831) ela retorna para a Europa e acompanha o processo das guerras liberais e o movimento do romantismo literário lusitano. Após a morte de D. Pedro (1834) passou a dedicar à filha do casal até o falecimento desta em 1853. A partir de então passou a viver reclusa no Palácio das Janelas Verdes, sem deixar de atuar na benemerência, demonstrando uma atenção extremada para com familiares e amigos. Contudo, a sua atuação foi minimizada devido à posição marginal que ocupou em relação ao poder de D. Maria II, D. Pedro V e D. Luís. A comunicação visa a traçar um retrato da força política, cultural e assistencial de uma mulher a margem do poder.
A Independência brasileira também contou com uma testemunha privilegiada, a escritora, pintora e viajante inglesa Maria Graham (1785-1842). Expectadora e testemunha ocular atenta das revoltas populares em torno dos anseios separatistas que agitavam as províncias do Norte do Brasil em 1821 e 1824, ela deixou escritos que até hoje servem como baliza para se pensar a trama. Ademais, a atuação da escritora inglesa como uma dedicada preceptora da princesa d. Maria da Glória, que compartilhou da confiança e amizade da Imperatriz Leopoldina durante a sua breve e conturbada permanência no Palácio de São Cristóvão, forneceu insights preciosos sobre o cotidiano da família imperial. Ao descrever os meandros políticos das contendas independentistas brasileiras, com a parcialidade crítica que caracteriza a sua escrita, Maria Graham revela-nos na obra memorialística de sua autoria, Escorço Biográfico de D. Pedro I. A pedido do amigo Almirante Thomas Cochrane, o então Comandante da Armada Imperial Brasileira, ela desempenhou o papel de mediadora entre as proclamações de capitulação impostas pelo governo de D. Pedro I e a resistência dos sediciosos republicanos à causa federalista pernambucana da Confederação do Equador chefiada por Manoel de Carvalho Paes de Andrade. Maria Graham escreveu e desenhou o que viu e viveu no Brasil oitocentista de D. Pedro I. A desventurada estada da viajante inglesa no Palácio de São Cristóvão em outubro de 1824, foi pautada por intrigas e desilusões pessoais, tendo denunciado os ardis cortesãos, que grassavam imperiosos nos corredores e porões palacianos, evidenciando assim, o cotidiano da vida pública e privada da família imperial brasileira.
Imagem: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon393054/icon39...
200 da Independência
Quinta-feira, 12 de maio de 2022, às 17h
As mulheres e a Independência do Brasil
Por Paulo de Assunção (IHGB), Lourdes de Almeida Barreto Belchior (AARALETRAS) e Denise G. Porto (IHGN)
Paulo de Assunção é Doutor em História Ibérica (École des Hautes Etudes en Sciences Sociales - EHESS-Paris); Doutor em História Econômica e Social (Universidade Nova de Lisboa) e Doutor em História Socialpela (Universidade de São Paulo). É pós-doutor em Ciência da Religião (Universidade Mackenzie) e História da Educação (Universidade Estadual de Maringá). Dedicou boa parte da sua investigação a questões correlatas à presença jesuítica no império colonial português, à história cultural e econômica, ao turismo e à arquitetura e urbanismo. Possui trabalhos premiados pela Academia da Marinha de Portugal (2013), e Arquivo Nacional da Torre do Tombo e do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro - Prêmio D. João VI (2008). Foi agraciado com o Prêmio Jabuti (2012). É autor de diversos livros e artigos publicados em revistas acadêmicas nacionais e internacionais. Atualmente é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e investigador integrado do Centro de Estudos Clássicos (CEC) da Universidade de Lisboa.
Lourdes de Almeida Barreto Belchior é mestre pelo Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em História (PPGH) da Universidade Salgado de Oliveira. Possui especialização em História do Brasil e Sociologia. Atua na área da Educação Básica há mais de uma década. É membro da Academia Araruamense de Letras, AARALETRAS. É autora do livro Leopoldina e os Jornais: a Imperatriz e a imprensa brasileira de 1817 a 1826.
Denise G. Porto é historiadora e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História da Universidade Salgado de Oliveira em Niterói-RJ, Mestre em História pela mesma Instituição universitária com a Dissertação intitulada: "A voz feminina e estrangeira de Maria Graham na construção de uma narrativa historiográfica sobre o Brasil Oitocentista-1821-1825” (2019). Escritora e pesquisadora é Licenciada em História pela Universidade Estácio de Sá (2013). É bolsista FAPERJ no Edital 34/2021 - Bicentenário da Independência do Brasil em cooperação com a Fundação Biblioteca Nacional, no Projeto " Identificação e Exposição dos documentos históricos relativos ao processo de Independência do Brasil contidos no acervo do Projeto Resgate Barão do Rio Branco da Fundação Biblioteca Nacional. É Colaboradora do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, IHGRJ (2017) e Sócia-Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, IHGN (2022). É autora do livro Maria Graham, uma inglesa na Independência do Brasil (2020) pela Editora CRV e é coautora em 6 livros, sendo eles: Migração em debate: novas abordagens publicado (2018) pela Editora ASOEC; História: diálogos Contemporâneos III (2019) publicado pela Editora Atena; A arte de ser mulher (2019) publicado pela Editora Rede Sem Fronteiras; Movimentos, trânsitos e memórias (2019) publicado pela Editora ASOEC; Mulheres na História- inovações entre o público e o privado (2020) publicado pela Editora Literar; História: ciência do passado no presente (2021) publicado pela Editora Conhecimento Livre.
O evento é online e transmitido no canal da FBN no Youtube:
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Para ir direto ao episódio da próxima Quinta-feira às 17:00 acesse:
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