200 da Independência│ As mulheres e a Independência do Brasil

Fundação Biblioteca Nacional, FBN, 200 da Independência, Lives da BN
Data: 
12/05/2022
A próxima edição da série traz à baila o papel e a visão de três mulheres que participaram ou foram testemunhas oculares do processo de Independência. Em um evento político quase que exclusivamente liderado por homens, três mulheres estrangeiras deixaram suas marcas, cada uma a seu modo: as imperatrizes Leopoldina e Amélia de Leuchtenberg, e a viajante inglesa Maria Graham.

Poucas personagens da História do Brasil cativam mais do que Leopoldina, a primeira esposa de D. Pedro I. As biografias sobre ela deixam nos leitores um rastro de ternura, de respeito e de admiração. Sua trajetória nem de longe se assemelha aos tradicionais contos de fadas e sua história é de uma mulher cujo amor nunca fora correspondido à altura, mas que, nem por isso, perdeu o viço de estadista e o senso de responsabilidade política para com a sociedade que a acolhera como autêntica brasileira. A relação de Leopoldina com o Brasil começou a ser tecida por meio de acordo matrimonial entre o governo português e o austríaco. Em novembro de 1817, a jovem austríaca chegaria ao Novo Mundo e, até 1826, ano em que veio a falecer, Leopoldina passaria a ser alvo da imprensa brasileira que, por meio de seus jornais, não tardaria em noticiar momentos importantes ligados a sua vida no Brasil. Acessar as notícias que foram publicadas sobre Leopoldina, no decorrer dos anos em que a jovem viveu no Brasil, possibilita o entendimento da relação que se construiu entre ela e o povo brasileiro no contexto da independência, uma vez que a imprensa reflete valores da sociedade na qual se encontra inserida.

Amélie Auguste Eugénie Napoléone de Beauharnais, princesa de Leuchtenberg (1812-1873), segunda esposa do imperador D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal), é uma das figuras femininas esquecidas em meio à turbulência política do século XIX. A apresentação a seu respeito na série "200 da Independência" visa a traçar o percurso biográfico da imperatriz do Brasil e suas andanças pela Europa e no Brasil, num momento de transformações sociais e políticas promovidas pelo liberalismo e nacionalismo. A intenção é delinear, por meio da correspondência passiva e ativa, o movimento do espírito de uma mulher envolta pela trama da vida. Desde cedo, a jovem Amélia de Leuchtenberg foi instada a enfrentar desafios como o casamento com um monarca viúvo, pai de cinco filhos e com uma reputação de amante incorrigível. Destemida, ela enfrentou o Oceano Atlântico e as dificuldades que emergiram, carregando no peito a saudade. Pouco tempo duraria o seu reinado nas terras tropicais. Após a abdicação de D. Pedro I (1831) ela retorna para a Europa e acompanha o processo das guerras liberais e o movimento do romantismo literário lusitano. Após a morte de D. Pedro (1834) passou a dedicar à filha do casal até o falecimento desta em 1853. A partir de então passou a viver reclusa no Palácio das Janelas Verdes, sem deixar de atuar na benemerência, demonstrando uma atenção extremada para com familiares e amigos. Contudo, a sua atuação foi minimizada devido à posição marginal que ocupou em relação ao poder de D. Maria II, D. Pedro V e D. Luís. A comunicação visa a traçar um retrato da força política, cultural e assistencial de uma mulher a margem do poder.

A Independência brasileira também contou com uma testemunha privilegiada, a escritora, pintora e viajante inglesa Maria Graham (1785-1842). Expectadora e testemunha ocular atenta das revoltas populares em torno dos anseios separatistas que agitavam as províncias do Norte do Brasil em 1821 e 1824, ela deixou escritos que até hoje servem como baliza para se pensar a trama. Ademais, a atuação da escritora inglesa como uma dedicada preceptora da princesa d. Maria da Glória, que compartilhou da confiança e amizade da Imperatriz Leopoldina durante a sua breve e conturbada permanência no Palácio de São Cristóvão, forneceu insights preciosos sobre o cotidiano da família imperial. Ao descrever os meandros políticos das contendas independentistas brasileiras, com a parcialidade crítica que caracteriza a sua escrita, Maria Graham revela-nos na obra memorialística de sua autoria, Escorço Biográfico de D. Pedro I. A pedido do amigo Almirante Thomas Cochrane, o então Comandante da Armada Imperial Brasileira, ela desempenhou o papel de mediadora entre as proclamações de capitulação impostas pelo governo de D. Pedro I e a resistência dos sediciosos republicanos à causa federalista pernambucana da Confederação do Equador chefiada por Manoel de Carvalho Paes de Andrade. Maria Graham escreveu e desenhou o que viu e viveu no Brasil oitocentista de D. Pedro I. A desventurada estada da viajante inglesa no Palácio de São Cristóvão em outubro de 1824, foi pautada por intrigas e desilusões pessoais, tendo denunciado os ardis cortesãos, que grassavam imperiosos nos corredores e porões palacianos, evidenciando assim, o cotidiano da vida pública e privada da família imperial brasileira.

Imagem: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon393054/icon39...

 

200 da Independência

Quinta-feira, 12 de maio de 2022, às 17h

As mulheres e a Independência do Brasil

Por Paulo de Assunção (IHGB), Lourdes de Almeida Barreto Belchior (AARALETRAS) e  Denise G. Porto (IHGN)

 

Paulo de Assunção é Doutor em História Ibérica (École des Hautes Etudes en Sciences Sociales - EHESS-Paris); Doutor em História Econômica e Social (Universidade Nova de Lisboa) e Doutor em História Socialpela (Universidade de São Paulo). É pós-doutor em Ciência da Religião (Universidade Mackenzie) e História da Educação (Universidade Estadual de Maringá). Dedicou boa parte da sua investigação a questões correlatas à presença jesuítica no império colonial português, à história cultural e econômica, ao turismo e à arquitetura e urbanismo. Possui trabalhos premiados pela Academia da Marinha de Portugal (2013), e Arquivo Nacional da Torre do Tombo e do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro - Prêmio D. João VI (2008). Foi agraciado com o Prêmio Jabuti (2012). É autor de diversos livros e artigos publicados em revistas acadêmicas nacionais e internacionais. Atualmente é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e investigador integrado do Centro de Estudos Clássicos (CEC) da Universidade de Lisboa.

Lourdes de Almeida Barreto Belchior é mestre pelo Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em História (PPGH) da Universidade Salgado de Oliveira. Possui especialização em História do Brasil e Sociologia. Atua na área da Educação Básica há mais de uma década. É membro da Academia Araruamense de Letras, AARALETRAS. É autora do livro Leopoldina e os Jornais: a Imperatriz e a imprensa brasileira de 1817 a 1826.

Denise G. Porto é historiadora e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História da Universidade Salgado de Oliveira em Niterói-RJ, Mestre em História pela mesma Instituição universitária com a Dissertação intitulada: "A voz feminina e estrangeira de Maria Graham na construção de uma narrativa historiográfica sobre o Brasil Oitocentista-1821-1825” (2019). Escritora e pesquisadora é Licenciada em História pela Universidade Estácio de Sá (2013). É bolsista FAPERJ no Edital 34/2021 - Bicentenário da Independência do Brasil em cooperação com a Fundação Biblioteca Nacional, no Projeto " Identificação e Exposição dos documentos históricos relativos ao processo de Independência do Brasil contidos no acervo do Projeto Resgate Barão do Rio Branco da Fundação Biblioteca Nacional. É Colaboradora do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, IHGRJ (2017) e Sócia-Titular do Instituto Histórico e Geográfico de Niterói, IHGN (2022). É autora do livro Maria Graham, uma inglesa na Independência do Brasil (2020) pela Editora CRV e é coautora em 6 livros, sendo eles: Migração em debate: novas abordagens publicado (2018) pela Editora ASOEC; História: diálogos Contemporâneos III (2019) publicado pela Editora Atena; A arte de ser mulher (2019) publicado pela Editora Rede Sem Fronteiras; Movimentos, trânsitos e memórias (2019) publicado pela Editora ASOEC; Mulheres na História- inovações entre o público e o privado (2020) publicado pela Editora Literar; História: ciência do passado no presente (2021) publicado pela Editora Conhecimento Livre. 

 

O evento é online e transmitido no canal da FBN no Youtube:

Acesse o canal do Youtube da FBN para acompanhar esse e outros eventos:

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Para ir direto ao episódio da próxima Quinta-feira às 17:00 acesse:

https://www.youtube.com/watch?v=vhy0sESkKww 

 

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