Perfil - Alberto Martín Chillón e os conceitos de moderno e modernismo na arte brasileira oitocentista

terça-feira, 23 de junho de 2015.
Perfil
Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, Programa Nacional de Apoio a Pesquisadores Residentes, pesquisa, pesquisa e editoração, pesquisador
O projeto ‘Modernidade e modernismo: crítica de arte no Brasil Imperial (1860-1889)’ procura entender os conceitos de moderno e de modernismo na arte brasileira, seus significados, usos e protagonistas. A pesquisa utiliza como fonte de consulta diversos jornais preservados no acervo da Biblioteca Nacional e disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira.

Alberto Martín Chillón, pesquisador-bolsista do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional (PNAP), desenvolve seu trabalho tanto a partir de um ponto de vista teórico, através dos textos dos críticos e intelectuais, quanto prático, por meio das obras de arte e de seus criadores. Sua pesquisa compreende as décadas entre 1860 e 1889, antes dos artistas conhecidos como pré-modernos e da chegada da modernidade “oficial”, que tem como ponto de referência a Semana da Arte Moderna de 1922.

De acordo com o pesquisador, para realizar esta análise é necessário recorrer à imprensa, devido às poucas publicações de crítica de arte especializada da época, como por exemplo, Belas Artes: estudos e apreciações (1885), de Felix Ferreira, e A arte brasileira (1889), de Luís Gonzaga Duque-Estrada. Entre os jornais consultados estão: A Actualidade, A Illustração, A Nação, A Reforma, Carbonario, Correio Mercantil, Diário do Brazil, Diário do Rio de Janeiro, Gazeta da Tarde, Gazeta de Noticias, Jornal da Tarde, Ministerio do Império, O Cruzeiro, O Paiz, O Portuguez e Revista Illustrada.

“O termo moderno tem suscitado discussões, definições, críticas e reinterpretações no decorrer do tempo. É constante a preocupação do homem por definir e codificar o que lhe é próprio, o que pertence à sua época, diferenciando-a das anteriores, e também de seus próprios contemporâneos”, explica Alberto.

No período investigado são frequentes as tentativas de definir e defender o moderno, sempre inevitavelmente ligado e contraposto a seu “inimigo” – o acadêmico, clássico, tradicional ou não moderno –, do qual precisa para existir. Assim, o moderno se identificará principalmente com a natureza e o realismo, com o que é próprio das cidades e os avanços da tecnologia, com o social e o político. Associado ao moderno aparece também o modernismo, com um caráter negativo mais forte, aludindo às novidades, às modas, insistindo no seu caráter temporal e frívolo, superficial, condenado a desaparecer, pois o tempo o colocaria em seu lugar diante da imortalidade do clássico e da superioridade “das velhas escolas”.

“Nesse sentido, investigo quem são os protagonistas da modernidade, os autores dos textos, suas procedências e interesses. Apesar da multiplicidade de perfis, eles aparecem unidos, na maioria dos casos, pelo jornalismo, meio de expressão das suas ideias. Embora atuassem primordialmente em atividades como literatura, política, diplomacia, engenharia ou advocacia, não estavam necessariamente ligadas às Belas Artes, ainda que, por exemplo, Angelo Agostini tenha se destacado como cartunista e caricaturista; Bernardo Valentim Moreira de Sá como músico; Insley Pacheco como fotógrafo, desenhista e pintor; Joaquim José da França Junior como pintor; e Alfredo Camarate como conservador do Museu de Arte Ornamental da Academia das Belas Artes de Lisboa. Existem, no entanto, muitos outros autores que tratam da modernidade, sendo alguns pouco conhecidos, como Silvestre de Lima, Mariano Pina, Domicio da Gama, João Pinheiro Chagas, Cândido Jucá, Joaquim Jacobino Freire ou Emilio Bercarat”, relata o pesquisador.

O que distinguia aqueles que pretendiam ser modernos? Quais eram as características dessa modernidade e as lutas que inevitavelmente seus partidários tiveram diante da resistência feroz dos “não modernos”? No fundo, tratava-se de uma batalha entre diferentes modos de entender a beleza, a arte e o mundo, que marcou fortemente o século.

Alberto Martín Chillón é licenciado e mestre em História da Arte pela Universidad Complutense de Madrid. Doutorando em Artes – História e Crítica da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pesquisador da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) pelo Programa Nacional de Apoio à Pesquisa (PNAP). Dedica-se ao estudo da arte do século XIX, especialmente a escultura, e investiga conceitos como academicismo; modernidade e tradição; indianismo e construção da imagem nacional brasileira. Desenvolve, sob a orientação da Professora Doutora Maria Cristina Louro Berbara, a tese de doutorado intitulada “Estatuário, escultor, artesão: a escultura e seu ofício no Brasil oitocentista”, através da qual pretende analisar a escultura como um campo específico, mas não isolado, com características e problemas próprios, até o momento escassamente estudado.

Conheça um pouco mais sobre o pesquisador:

Artigos: