Obra de Dante Alighieri é tema de mesa redonda na BN

segunda-feira, 26 de outubro de 2015.
Evento
Catálogos, Renato Lessa
O segundo dia de celebrações dos 750 anos de nascimento do poeta, 22 de outubro, quinta-feira, reuniu quatro estudiosos para analisar obra e legado do autor de Dante Alighieri. A mesa-redonda contou com apresentações de Manoel Ricardo de Lima, Andrea Lombardi, Davi Pessoa e Renato Lessa e mediação. Ao final do evento, Alessandra Vanucci e Elisa Lucinda fizeram uma leitura dramatizada de cantos da Divina Comédia.

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22 de outubro de 2015 - Auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional foi palco de mesa-redonda que discutiu a obra do poeta toscano Dante Alighieri.
22 de outubro de 2015 - Auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional foi palco de mesa-redonda que discutiu a obra do poeta toscano Dante Alighieri.

A abertura da mesa-redonda foi realizada por Davi Pessoa, professor de literatura italiana da UERJ. Em seguida, Manoel Ricardo de Lima, professor de literatura brasileira na UNIRIO, proferiu a palestra “Máquina mundo – uma viagem de trem ao inferno”, em que apresentou as visões de diversos autores sobre a obra de Dante Alighieri, tais como Jorge Luis Borges, Éric Dardel, os irmãos Campos e outros. Ao final de sua apresentação, o professor leu trechos do poema “Visão do último trem subindo ao céu”, de Joaquim Cardoso, que apresenta uma releitura do universo dantesco.

Em seguida, Andrea Lombardi, professor do departamento de Línguas Neolatinas da Faculdade de Letras/UFRJ, apresentou a conferência “Haroldo de Campos e a interpetação luciferiana”. Dentre os temas discutidos, Lombardi destacou a visão do poeta paulista sobre a Divina Comédia e a figura de Lúcifer, “aquele que veio da luz e foi condenado às trevas”. O professor, citando José Luiz Borges, disse que a literatura pode mudar o futuro e também o passado: “da mesma forma que textos anteriores a Kafka podem ser considerados kafkianos, é possível dizer que textos anteriores à Divina Comédia são luciferinos”.

O terceiro painel, apresentado por Davi Pessoa, teve como tema “La Divina Mimesis de Pasolini: o mundo amarelado”. Em sua análise, Dante é a espinha dorsal da inflamação de Pasolini. Esta influência pode ser identificada tanto no esboço de romance La Mortaccia quanto na obra póstuma Divina Mimesis, uma reescritura da Divina Comédia. Segundo Pessoa, Pasolini não se considerava um criador de estilos, mas estilisticamente era um pasticheur.

Para concluir, o presidente da Biblioteca Nacional, Renato Lessa, ministrou a palestra “Modos do Inferno: Dante, Primo Levi”. De acordo com ele, na obra de Primo Levi a voz de Dante está sempre presente, mesmo de maneira não explícita. Na análise de Lessa, a descida ao inferno da Divina Comédia é movida por uma vontade de esclarecimento, que antes havia sido narrada por autores como Homero, na Odisseia, e Virgílio, na Eneida. Já o paraíso dantesco promove uma relação intrínseca entre claridade e ofuscamento. “Na visão de Amós Oz, o excesso de clareza é prejudicial, pois a verdade precisa de sombras”, explicou. Lessa encerrou sua fala reafirmando a importância da celebração dos 750 anos de nascimento de Dante, para que não aconteça o esquecimento, e sim sua inclusão na posteridade.

Após o término da mesa-redonda, foi realizada uma leitura dramatizada de cantos da Divina Comédia pela dramaturga Alessandra Vanucci e a poetisa Elisa Lucinda.