Marcia Taborda e a música carioca segundo os artistas-viajantes

terça-feira, 12 de abril de 2016.
Perfil
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Marcia Taborda, pesquisadora-bolsista do Programa Nacional de Apoio a Pesquisadores Residentes – PNAP-R da Biblioteca Nacional, desenvolve a pesquisa “Da Viola à Viola Grande: A música no Rio de Janeiro dos Artistas-Viajantes”, em que aborda a prática musical no Rio de Janeiro oitocentista, notadamente aquela relacionada ao uso da viola e do violão como instrumentos acompanhadores dos principais gêneros musicais, presença que foi fartamente documentada pelos chamados artistas-viajantes que visitaram nossa cidade, como Debret, Spix e Martius, Rugendas, Chamberlain, Luccock, apenas para nomear alguns.

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A pesquisadora e violonista Marcia Taborda. Foto:Silvana Marques
A pesquisadora e violonista Marcia Taborda. Foto:Silvana Marques

Em princípios do século XIX uma grande novidade foi introduzida no meio musical carioca: o violão, à época denominado viola francesa. O instrumento – que surgiu na Europa em fins do século XVIII – alcançou imensa popularidade nas salas de concerto do velho continente logo nos primeiros anos de difusão.

A moda foi rapidamente assimilada também no Brasil, o que se pode verificar pelos anúncios publicados em periódicos da época, referindo-se tanto a obras e métodos de ensino, como também a mestres artesãos e professores desta arte. O violão se aclimatou e passou a ser o porta voz e principal acompanhador de modinhas, lundus, maxixes e sambas até chegar à síntese musical que representou o acompanhamento da bossa-nova.

Esse processo envolveu uma importantíssima mudança em nossa música popular: depois de três séculos de difusão, a viola, instrumento até então identificado à prática urbana, desapareceu. Voltará à cena nos palcos cariocas, já no século XX, não mais harmonizando cantigas, mas sendo porta voz da identidade regional.

A Biblioteca Nacional abriga um acervo incalculável para a realização da pesquisa, com destaque para registros hemerográficos, obras raras e manuscritos. Com este mergulho nos documentos produzidos pela pena estrangeira a pesquisadora propõe estabelecer um diálogo com a documentação brasileira coeva, ferramenta e contraponto ao olhar do outro - à uma construção erigida a partir de uma realidade cultural diversa - para os temas da nossa história e sociedade.

Marcia Taborda é violonista, Doutora em História Social pela UFRJ e realizou pós-doutoramento vinculado à Universidade Nova de Lisboa (2015). É autora do livro Violão e identidade nacional: Rio de Janeiro 1830-1930, publicado pela editora Civilização Brasileira, obra ganhadora do Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música (2010). Contemplada pela Faperj - Edital Rio 450 para realizar o DVD da aula-espetáculo A viola e o violão em terras de São Sebastião, gravou para a Acari Records o CD Choros de Paulinho da Viola, com a obra do compositor escrita para o violão; já para o selo ABM Digital, produziu o CD Musica Humana, com obras do repertório brasileiro contemporâneo. Marcia é professora de violão e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violão da Escola de Música da UFRJ.

A pesquisadora e violonista Marcia Taborda. Foto:Silvana Marques