Alta fidelidade à palavra - projeto vai aprimorar registros da BN para obras em grego e latim.

terça-feira, 28 de março de 2017.
Notícia
tradução, transliteração, grego, latim, língua portuguesa, incunábulos
A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) firmou recentemente um acordo de cooperação técnica, científica e cultural com a Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para o projeto de Extensão “Os Clássicos no acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional”, que tem por objetivo melhorar a qualidade dos registros catalográficos de obras em latim e línguas ditas ‘exóticas’, a exemplo do grego, que conta com caracteres estranhos ao alfabeto latino e que, portanto, demanda transliteração – conversão de caracteres para o nosso alfabeto –, buscando reproduzir o som das letras e palavras nos idiomas originais.

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Equipe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional apresenta incunábulos aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.
Equipe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional apresenta incunábulos aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.

Ao longo de muitos anos, os registros iniciais em bancos de dados e fichas catalográficas de obras em idiomas como grego, latim, russo e árabe, entre outros, foram realizados por técnicos que não dominavam esses idiomas, ou pelo menos, que não estavam capacitados a realizar a transliteração dos alfabetos originais para o latino. Com isso, os títulos registrados nas fichas de milhares de obras – bem como resenhas informativas sobre as obras, que naturalmente não puderam ser realizadas – foram preenchidos sumariamente e de maneira genérica.

“Temos uma grande quantidade de obras cujos títulos e autores desconhecemos. Potencialmente, contamos com verdadeiros tesouros que simplesmente desconhecemos, pelo simples fato de não reunirmos um conjunto básico de informações que nos permitam pesquisar, apurar e compará-las”, define Ana Virginia Pinheiro, bibliotecária e chefe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.

Justamente com o objetivo de resolver essa questão, a Biblioteca se aproximou da academia, particularmente, do Departamento de Letras Clássicas da UFRJ. O professor de Língua e Literatura Latinas Fábio Frohwein explica que “todo aluno universitário precisa cumprir 10% da carga horária total de seu curso (Bacharelado ou Licenciatura) em ações voltadas à extensão (programas, projetos, cursos ou eventos de extensão), o que lhes permite realizar atividades práticas em sua área de especialização. Ora, essa Extensão não é mais entendida como simples transmissão de informações para a sociedade, mas sim como diálogo, mistura e reprocessamento de saberes. Nosso ensino vai se tornar melhor devido ao intercâmbio com outras áreas de conhecimento e instituições. Essa parceria com a Biblioteca Nacional também está em sintonia com a visão do MEC no sentido de proporcionar aos estudantes uma formação mais holística e cidadã”.

O professor explica que a vontade de realizar essa parceria era antiga, mas que apenas recentemente a iniciativa se transformou efetivamente em acordo de parceria assinado por ambas as instituições. Ainda segundo Fábio, o Departamento de Letras Clássicas não proporcionava uma atividade de extensão que abrisse espaço aos cerca de 50 alunos que ingressam nos cursos de Português-Latim e Português-Grego a cada semestre. “Quando pensamos em ampliar a Extensão do Departamento, buscamos trazer essa parceria para dentro da Biblioteca Nacional”, explicou Fábio.

Ana Virginia reforça o caráter de amplo benefício do acordo, afirmando que “nós ganhamos registros novos e qualificados para obras clássicas, potencialmente valiosas, permitindo novas e importantes descobertas em nosso acervo; os estudantes e acadêmicos, por sua vez, ganham a oportunidade de se preparar, cumprindo seus créditos acadêmicos e vivenciando sua área de conhecimento de maneira viva e prática, acessando um dos mais ricos acervos do mundo. É bom para todos, inclusive para o pesquisador que é o principal interessado, já que passa a ter acesso a uma catálogo muito melhor e mais rico.”

O pontapé inicial já foi dado: no último dia 17 de março, um grupo de dez alunos de Latim do professor Fábio Frohwein esteve na Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, ocasião em que Ana Virginia Pinheiro fez extensa explanação sobre os incunábulos – obras produzidas antes de 1500 e que serão as primeiras a serem processadas como produto da parceria –, com o apoio de sua equipe. Os alunos viram obras que não são abertas há 10, 15 anos, e receberam orientações sobre cuidados ao manipular essas preciosidades, bem como travaram um primeiro contato com o material necessário para a realização da tarefa: avental, luvas, óculos especiais e máscara.

Por fim, como desdobramento dessa parceria, a Biblioteca Nacional e a UFRJ planejam desenvolver um curso de introdução ao Latim no âmbito do Planor – Plano Nacional de Obras Raras – para que bibliotecários leigos adquiram capacitação mínima para cumprir tarefas mais elementares de transliteração e, assim, possam abrigar esse conhecimento dentro da própria instituição. O curso está sendo preparado pelo professor Fábio e sua equipe com base em expressões latinas recolhidas dos incunábulos explorados pelo projeto de Extensão e contará com material didático próprio a ser publicado pela Fundação Biblioteca Nacional.

Profissional da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional apresenta incunábulo.
Ana Virginia Pinheiro, bibliotecária e chefe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, faz exposição aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.
O professor de Língua e Literatura Latinas da UFRJ, Fábio Frohwein.
Aluno da Faculdade de Letras da UFRJ observa detalhes em incunábulo sob supervisão da equipe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.
Incunábulos e obras raras selecionados especialmente para apresentação aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ que integram o projeto “Os Clássicos no acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional”
Ana Virginia Pinheiro, bibliotecária e chefe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, observada por aluna da Faculdade de Letras da UFRJ.
João Cândido, da Biblioteca Nacional, manuseia preciosidade da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, observado por Fábio Frohwein e Ana Virginia Pinheiro.
Equipe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional apresenta incunábulos aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.
Ana Virginia Pinheiro, bibliotecária e chefe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, faz exposição aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.
Equipe da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional apresenta incunábulos aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ.
Alunos da Faculdade de Letras da UFRJ apreciam preciosidades do acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional.
O professor Fábio Frohwein faz explanação aos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ no Salão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.
Obra do acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional e ficha catalográfica.
Alunos da Faculdade de Letras UFRJ e o professor Fábio Frohwein no Salão de Obras Raras da Biblioteca Nacional.