Carlos Ziller e as viagens interplanetárias na literatura europeia

terça-feira, 14 de março de 2017.
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Uma viagem pelo espaço sideral de carona na imaginação de um missionário jesuíta da época do Brasil colonial. Eis o tema a ser investigado pelo pesquisador residente Carlos Ziller Camenietzki, bolsista do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional na edição 2016.

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O pesquisador residente Carlos Ziller Camenietzki, bolsista do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional na edição 2016.
O pesquisador residente Carlos Ziller Camenietzki, bolsista do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional na edição 2016.

O tema das viagens interplanetárias foi recorrente na literatura europeia do século XVII, com a publicação de diversas obras de ficção e de reflexão filosófica. Em boa parte, esses livros foram escritos por astrônomos e por gente interessada em Astronomia, gerando, inclusive, algumas obras clássicas, fruto de um cenário literário que então florescia na Europa.

O tema também foi abordado em obras compostas em latim. Uma delas, o Uranophilus Caelestis Peregrinus (1685) foi escrita em Salvador por Valentin Stansel, jesuíta, astrônomo e missionário no Brasil.

A presente proposta de oferecer ao público uma tradução comentada desta obra cumpre um papel importante de tornar acessível um texto original sobre os céus, escrito em Salvador por um matemático da Companhia de Jesus. Mais que isso, também torna claro que a ciência praticada no Brasil e seus principais resultados foram lidos e incorporados ao grande esforço científico do século XVII.

A obra deixa claro que o padre Stansel estava a par do debate filosófico sobre a natureza dos céus e os desenvolvimentos da Filosofia Natural e da Astronomia de seu próprio tempo. No Uranophilus Celestis Peregrinus, podemos constatar que o jesuíta conhecia bem a obra de Descartes e comentava as teses cartesianas sobre os vórtices, que tanto deram a escrever nos tempos posteriores. Afinal, um campo de reflexão sofisticado e complexo como a Astronomia – que exige conhecimento matemático sofisticado e aparato instrumental pouco simples e de difícil fabricação – não era nada que pudesse ter vínculos diretos e lineares com a produção de açúcar, de couros ou tabaco.

Adicionalmente, a edição dessa obra contribui para alargar um tanto mais nossa compreensão sobre a vida na sociedade brasileira de finais do século XVII, mais precisamente em relação a aspectos culturais da Bahia de então, que nem sempre foram valorizados, no mínimo, por serem desconhecidos. 

Carlos Ziller Camenietzki doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Paris IV-Sorbonne com uma tese sobre o pensamento de Athanasius Kircher, jesuíta e importante filósofo natural do século XVII. Participou da criação do Museu de Astronomia e Ciências Afins nos anos oitenta do século passado e, desde então, vem se dedicando aos temas de história da ciência, em especial ao estudo da produção dos cientistas da antiga Companhia de Jesus, e da história política de Portugal. Professor de História Moderna do Instituto de História da UFRJ, editou o Tratado da Esfera, de Johannes de Sacrobosco, e traduziu A mensagem das estrelas, de Galileu Galilei. É também autor de A cruz e a luneta, publicado pela Editora Access e, mais recentemente, de O paraíso proibido, pela Editora Multifoco.