Katarina Ramljak e a tradução de Habitante irreal, de Paulo Scott, para o croata

quinta-feira, 18 de maio de 2017.
Perfil
tradução, Programa de Residência de Tradutores Estrangeiros no Brasil
Formada em Geografia e Língua e Cultura Portuguesa na Universidade de Zagreb e mestre em Estudos Portugueses Multidisciplinares pela Universidade Aberta de Lisboa, Katarina Ramljak trabalha atualmente na tradução de ‘Habitante irreal’, de Paulo Scott. Recentemente, o projeto a trouxe ao Brasil, como bolsista do Edital de Residência de Tradutores Estrangeiros da Biblioteca Nacional. Ela conversa conosco sobre a sua viagem e sobre o encontro com a língua portuguesa.

Você poderia falar um pouco sobre o seu encontro com a língua portuguesa?

O meu encontro com a língua portuguesa aconteceu quando ouvi um grupo de portugueses conversando. O som dessa língua tinha uma textura tão diferente de tudo o que eu ouvira até então. E, com isso, nasceu um desejo de um dia poder falar assim também. Com certeza, já me deparei varias vezes com o português na televisão, mas foi esse o momento em que decidi que queria estudar a língua portuguesa.

Como foi a sua passagem pelo Brasil? Qual é a importância da viagem para a tradução de Habitante irreal, de Paulo Scott?

Essa viagem ao Brasil para mim foi maravilhosa e muito importante. Conhecer pessoalmente o autor do romance, fazer as perguntas relacionadas aos desafios da tradução, conversar sobre as personagens, a inspiração, o processo de escrita, enfim, isso tudo representa uma experiência única. Também as aulas que frequentei na Universidade de São Paulo foram de grande importância para o meu processo de tradução porque o romance está muito marcado pelas questões políticas, o momento histórico dos anos 80, situação dos povos indígenas etc. As aulas me deram um novo conhecimento e novas maneiras de ler o romance. Poder passear pelas ruas de Porto Alegre foi um pouco como uma viagem pelo livro, já que o autor com frequência usa nomes das ruas e descreve lugares reais que são possíveis de reconhecer.

Qual aspecto do romance tem se revelado mais instigante no trabalho de tradução?

 A parte mais desafiadora no meu processo de tradução seguramente foi traduzir o momento histórico, os pensamentos e posturas de jovens influenciados pela época, a linguagem, as gírias típicas para jovens de Porto Alegre da década 80, que mesmo outras gerações gaúchas não conhecem, e aproximar todo esse universo do público croata sem perder a peculiaridade espacial e temporal do enredo.

Você poderia citar algum autor croata que o público brasileiro precisa conhecer?

Miljenko Jergović, um autor croata que nasceu na Bósnia-Herzegovina e atualmente vive em Zagreb. As suas obras foram traduzidas para mais de vinte idiomas, mas infelizmente só um livro dele foi traduzido para o português. É o Marlboro Sarajevo, publicado em Portugal em 2004. Espero que em breve o público brasileiro tenha a oportunidade de ler mais obras deste autor.