Você poderia falar um pouco sobre o seu encontro com a língua portuguesa?
O meu encontro com a língua portuguesa aconteceu quando ouvi um grupo de portugueses conversando. O som dessa língua tinha uma textura tão diferente de tudo o que eu ouvira até então. E, com isso, nasceu um desejo de um dia poder falar assim também. Com certeza, já me deparei varias vezes com o português na televisão, mas foi esse o momento em que decidi que queria estudar a língua portuguesa.
Como foi a sua passagem pelo Brasil? Qual é a importância da viagem para a tradução de Habitante irreal, de Paulo Scott?
Essa viagem ao Brasil para mim foi maravilhosa e muito importante. Conhecer pessoalmente o autor do romance, fazer as perguntas relacionadas aos desafios da tradução, conversar sobre as personagens, a inspiração, o processo de escrita, enfim, isso tudo representa uma experiência única. Também as aulas que frequentei na Universidade de São Paulo foram de grande importância para o meu processo de tradução porque o romance está muito marcado pelas questões políticas, o momento histórico dos anos 80, situação dos povos indígenas etc. As aulas me deram um novo conhecimento e novas maneiras de ler o romance. Poder passear pelas ruas de Porto Alegre foi um pouco como uma viagem pelo livro, já que o autor com frequência usa nomes das ruas e descreve lugares reais que são possíveis de reconhecer.
Qual aspecto do romance tem se revelado mais instigante no trabalho de tradução?
A parte mais desafiadora no meu processo de tradução seguramente foi traduzir o momento histórico, os pensamentos e posturas de jovens influenciados pela época, a linguagem, as gírias típicas para jovens de Porto Alegre da década 80, que mesmo outras gerações gaúchas não conhecem, e aproximar todo esse universo do público croata sem perder a peculiaridade espacial e temporal do enredo.
Você poderia citar algum autor croata que o público brasileiro precisa conhecer?
Miljenko Jergović, um autor croata que nasceu na Bósnia-Herzegovina e atualmente vive em Zagreb. As suas obras foram traduzidas para mais de vinte idiomas, mas infelizmente só um livro dele foi traduzido para o português. É o Marlboro Sarajevo, publicado em Portugal em 2004. Espero que em breve o público brasileiro tenha a oportunidade de ler mais obras deste autor.