Tereza Cristina França e a biografia de Domício da Gama, diplomata e fundador da ABL

terça-feira, 13 de junho de 2017.
Perfil
relações internacionais, Academia Brasileira de Letras, Eça de Queirós
Escrever uma biografia sobre Domício da Gama, diplomata e membro fundador da Academia Brasileira de Letras: este é o desafio a que se propõe Tereza Cristina Nascimento França, doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e pesquisadora residente do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional, edição 2016.

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A pesquisadora residente do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional, Tereza Cristina França.
A pesquisadora residente do Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional, Tereza Cristina França.

Os caminhos que conduziram Tereza Cristina a Domício da Gama abriram-se em 1994, quando a pesquisadora ainda era aluna de graduação em História na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Inicialmente, uma simples frase chamou sua atenção: “Rio Branco e sua trindade de ouro: Joaquim Nabuco, Gastão da Cunha e Domício da Gama”. Embora haja numerosos estudos, textos e citações acerca dos primeiros, um quase silêncio historiográfico pairava sobre o nome de Domício da Gama.

A curiosidade da jovem historiadora e a investigação subsequente logo geraram frutos, dos quais o principal é sua tese de doutorado na Universidade de Brasília, apresentada em 2007, “Self Made Nation: Domício da Gama e o pragmatismo do bom senso”. Assim, a vida e a obra do jornalista, diplomata e escritor Domício Afonso Forneiro, (1862-1925) – seu nome de batismo –, natural de Maricá (RJ) e importante figura do cenário nacional do início do século XX, finalmente começavam a ganhar a repercussão que mereciam.

A intenção original na tese era desenvolver uma biografia, “mas o perfil dual de Domício da Gama, escritor e diplomata, que abriu mão da literatura em prol da diplomacia, me levou para o seu lado diplomático. À época eu tinha uma série de perguntas cujas respostas, e fontes, não cabiam ali. O programa era de Relações Internacionais, então eu procurei focar na parte mais importante e inexplorada do trabalho de Domício”, declara Tereza Cristina.

Dando continuidade à pesquisa, a pesquisadora se propõe agora a escrever a biografia do diplomata com base em documentos oficiais, correspondências, contos, prosas, matérias de jornais e revistas disponíveis no acervo da Biblioteca Nacional, uma proposta que estava aquém do escopo da pesquisa e de suas possibilidades à época em que desenvolveu a tese: “antes não havia Hemeroteca Digital; atualmente, pesquisadoras notívagas como eu podem viajar nas páginas do tempo nas madrugadas da vida”, resume.

Tereza Cristina resume a importância do resgate desse personagem histórico: “a proposta desta biografia é revelar este homem quieto, zeloso a tudo que envolvesse o Brasil, mas que deixou um legado de ideais, comportamentos e pensamentos que precisa ser resgatado para que as gerações futuras não deixem de aprender um brasileirismo, moldado por princípios e não por opções financeiras, sociais ou mesmo ocasionais”.

Tereza Cristina explica que Domício da Gama tinha vocação para as letras desde menino. Por volta dos 18 anos, reunia-se semanalmente com um grupo de rapazes do chamado Grêmio Literário Jardim Academus para conversas sobre literatura, filologia, gramática, história e política. Conseguiu uma vaga como contista para a Gazeta Nacional e foi mais tarde enviado como correspondente para cobrir a inauguração da Torre Eiffel, enviando semanalmente o que se denominava de Carta de Paris. Domício veio a conhecer e a conviver com Eça de Queiróz e sua família, e também integrou o grupo literário Vencidos da Vida, que se encontrava uma vez por semana. Em fins do século XIX, aproximou-se do Barão de Rio Branco e participou da Missão de Palmas, ocasião em que começa a ser envolvido pela diplomacia e a se distanciar da literatura, reduzindo a frequência de sua produção até interrompê-la inteiramente em 1902. Mesmo assim, era mais conhecido nos meios literários brasileiros do que o próprio Rio Branco, razão pela qual recebeu 13 votos quando da eleição dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), contra apenas sete de Rio Branco.

Além de doutora em Relações Internacionais, título obtido em 2007, Tereza Cristina Nascimento França é mestre em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2000) e graduada e licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1996). Professora do Departamento de Relações Internacionais (DRI) da Universidade Federal de Sergipe, é líder do grupo de pesquisa do CNPQ Laboratório de Estudos de Conflitos e Paz (Labecon).