Leonardo Padura falou sobre Cuba e a carreira de escritor na Biblioteca Nacional

segunda-feira, 28 de agosto de 2017.
Evento
literatura, Espanha, premiação, Cuba
O convidado do Programa Diálogos da última sexta-feira, 25 de agosto, foi o escritor cubano Leonardo Padura, entrevistado no Auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional pela jornalista Helena Celestino.

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25 de agosto de 2017 - Helena Celestino e o escritor Leonardo Padura.
25 de agosto de 2017 - Helena Celestino e o escritor Leonardo Padura.

O período que marca o grande declínio econômico de Cuba, entre os anos de 1990 e 1995 – com a perda de seu principal sócio comercial e político, a União Soviética – também dá início à carreira de Leonardo Padura como escritor, com a criação de seu principal personagem, Mario Conde: “não havia eletricidade, não havia papel, não havia comida, não havia nada. No meio disso tudo, percebi que seria o melhor momento para escrever”. O escritor enumerou o grande número de obras que escreveu no período, todas longas, e declarou: “escrevi para não ficar louco”.

Em 1995, em um passo fundamental na carreira de escritor, decidiu deixar o emprego como chefe de redação da revista cultural mais importante de Cuba. Segundo Padura, “era um dos empregos mais desejados de Cuba”. Simplesmente, decidiu deixar o emprego e se dedicar à criação de seus livros, “com apenas US$ 400, que era toda a fortuna que eu tinha na época por um trabalho que havia publicado no México”. Pouco depois de deixar o emprego, conquistou o prêmio Café Gijon, com a obra Máscaras – que integra As quatro estações – e o prêmio no valor de US$ 20.000.

Ao largar o jornalismo naquele ano, Padura estava decidido a escrever uma novela policial cubana, porém, diferente das novelas policiais que existiam em Cuba até então, que, segundo o autor, nada mais eram do que propaganda política: “eu sabia que se podia escrever uma literatura policial que se utilizasse do gênero para fazer crítica social”, citando Rubem Fonseca como um exemplo de escritor que segue essa linha.

Respondendo a uma pergunta da jornalista Helena Celestino sobre a relação simbiótica com seu principal personagem, Leonardo Padura explicou que tem uma relação de 27 anos de ‘convivência’ com Mario Conde: “eu aprendi muito sobre Mario Conde, e Mario Conde aprendeu muito sobre mim; é um personagem da minha geração que tem experiências de vida mais ou menos parecidas. Não chega a ser um alter ego, porque ele foi policial, teve duas esposas, tem sua noiva, enfim, tem sua própria vida. Porém, temos visões de mundo que compartilhamos”. Lembrou ainda que seu personagem faz aniversário noi mesmo dia que o autor e decretou: “isso está se tornando algo psiquiatricamente interessante”.

Padura adiantou que sua última obra tendo como personagem o detetive Mario Conde sairá em breve no Brasil pela editora com a qual vem trabalhando nos últimos anos, a Boitempo, indicando que a obra se encontra neste momento no processo de tradução.