A pesquisa de Mónica Vermes volta-se para a riquíssima vida musical carioca no período da Belle Époque, entre os anos 1890 e 1920, e desconsidera divisões convencionais entre erudito e popular. O objetivo é entender como os repertórios, os músicos e o público transitavam pela cidade. A música (não tão diferentemente do que experimentamos hoje) era feita em vários lugares: em residências, ruas, clubes e associações, restaurantes e cafés e nos teatros, foco principal do projeto.
A principal fonte da pesquisa é o jornal O Paiz, “a folha de maior tiragem e de maior circulação da América do Sul”, no qual escrevia o mais respeitado (e polêmico) crítico musical da época – Oscar Guanabarino. A leitura das sucessivas edições diárias do jornal – digitalizado e disponível na “Hemeroteca Digital” da Biblioteca Nacional – permite identificar os espetáculos apresentados nos teatros do Rio de Janeiro, bem como a crítica musical e os comentários mais descontraídos dos jornalistas, que deixam transparecer os significados atribuídos ao repertório musical-teatral da época.
Neste momento, a autora concentra esforços na segunda etapa de seu projeto, que trata especificamente do período que vai de 1906 a 1920, com importantes transformações e efervescência na cidade e na sua vida social e cultural, não só por causa das reformas – que provocaram profundas transformações físicas na cidade –, mas também pela maior difusão dos gramofones – em 1917 circulou “Pelo telefone”, considerado um marco na história do samba – e do cinema. Ao mesmo tempo, grupos se esforçavam no sentido de constituir uma cena teatral mais séria e uma cena musical mais erudita, com características mais nacionais.
É possível acompanhar ao longo desse período mudanças significativas na forma de pensar, fazer, difundir e consumir música. Em vários aspectos essas mudanças nos ajudam a entender valores, comportamentos e hábitos que se cristalizaram entre nós.
Mónica Vermes é bacharel em Composição e Regência pelo Instituto de Artes da Unesp, onde também cursou o Mestrado em Música, tendo como tema a música para piano de Alberto Nepomuceno. Doutorou-se pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e sua tese, Crítica e criação: um estudo sobre a Kreisleriana Op. 6 de Robert Schumann, foi lançada em livro pela Ateliê. Realizou um estágio de pós-doutorado no Departamento de Música da ECA-USP e outro, mais recentemente, no Instituto de Artes da Unesp, quando se dedicou à primeira etapa deste projeto de pesquisa, centrada nos anos de 1890 a 1905, etapa do trabalho que contou com financiamento do CNPq. Mónica é musicóloga e professora associada na Universidade Federal do Espírito Santo, onde lidera o NELM - Núcleo de Estudos Literários e Musicológicos e participa das atividades do Departamento de Teoria da Arte e Música e dos Programa de Pós-Graduação em Letras e em Comunicação e Territorialidades. É pesquisadora do Labelle – Grupo de pesquisa sobre Literatura e Cultura da Belle Époque (UERJ), do NOMOS – Núcleo de Musicologia Social do Instituto de Artes da Unesp (IA-Unesp) e do Grupo de Pesquisa História e Música (Unesp). Como pesquisadora seu principal foco de interesse é a música e suas relações com a literatura e com a história. Tem concentrado esforços no estudo da música brasileira (erudita, popular e de entretenimento), especialmente no Rio de Janeiro, da segunda metade do século XIX a meados do século XX. Participa regularmente de congressos e outros encontros acadêmicos no Brasil e no exterior (Argentina, Canadá, Japão, Chile, Cuba, Itália, Turquia, Espanha) e apresenta o programa semanal de divulgação musicológica Lugar da Música na Rádio Universitária 104.7 (Ufes).