Mesa redonda reuniu especialistas para lançamento do catálogo da exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia

quarta-feira, 7 de março de 2018.
Evento
arqueologia, história, Itália, Egito, D. Pedro II, Coleção Thereza Christina Maria
Uma mesa redonda realizada a partir das 16h desta quinta-feira, 1º de março, no Auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional (BN), reuniu o Prof. Dr. Antonio Brancaglion Junior, curador da Coleção Egípcia do Museu Nacional da UFRJ, o Prof. Dr. Luiz Marques, do Departamento de História da Unicamp, Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, curador da exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia, Maria Eduarda Marques, diretora do Centro de Cooperação e Difusão da BN e Helena Severo, presidente da BN.

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1º de março de 2018 - Público no Auditório Machado de Assis por ocasião do seminário Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia.
1º de março de 2018 - Público no Auditório Machado de Assis por ocasião do seminário Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia.

Coube a Helena Severo a abertura do seminário. Ela lembrou que a exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia é um ‘recorte’ da preciosa Coleção D. Thereza Christina Maria de fotografias, que foi doada pelo Imperador Dom Pedro II à Biblioteca Nacional após a proclamação da República. Sua importância foi reconhecida pela UNESCO com o Registro Internacional da Memória do Mundo. Por fim, a presidente da BN agradeceu as presenças do cônsul do Egito, de representantes do Consulado da Alemanha e de representantes da UNESCO.

Em seguida, o curador Joaquim Marçal falou sobre a relação da Biblioteca Nacional com a imagem. Se atualmente a casa possui um acervo dedicado exclusivamente à Iconografia, isso se deve muito ao esforço de diversos pesquisadores e funcionários da casa ao longo dos anos, que fizeram eco a um interesse crescente sobre esse tipo de registro documental e artístico. Nas palavras de Joaquim, “os anos 80 testemunham o surgimento de um grande interesse mundial pela fotografia. Na Funarte se criou um programa nacional da fotografia em 1979. Eu estou na Biblioteca Nacional desde 1981 e comecei como designer, mas já tinha interesse pela fotografia antes. Eu me engajei em um movimento nacional pela indexação e catalogação das imagens históricas. Essa tem sido a nossa luta ao longo das décadas de 80, 90 e 2000, a gente vem batalhando muito para valorizar e promover a fotografia”.

Maria Eduarda Marques começou com um depoimento pessoal: “eu quero falar sobre o meu entusiasmo. Quando o Joaquim fez a seleção das fotografias, eu fiquei absolutamente impactada, verifiquei que havia naquele material mais do que um sentido de registro daquele grande monumento de Pompeia: havia um sentido estético, herdeiro do neoclassicismo”. A historiadora traçou um panorama da época da descoberta de Pompeia, em 1738, fato que rendeu muito prestígio ao ‘déspota esclarecido’, rei Carlos III. Era a primeira vez que uma cidade romana inteira, de incalculável valor histórico, se descortinava daquela maneira, totalmente preservada por baixo de espessas camadas de rocha vulcânica. Os artefatos à época foram retirados de maneira atabalhoada, não havia método de levantamento arqueológico. No entanto, foi justamente esse episódio de descoberta que motivou uma série de melhorias nos processos de registro e de documentação histórica: “Pompéia foi o vértice do nascimento da arqueologia científica, e também de uma estética neoclássica. Pompéia também trouxe novo interesse aos estudos da antiguidade, ela mudou o eixo, projetando a região de Napoli como epicentro dos estudos da antiguidade na época”, explicou Maria Eduarda.

Em seguida, a palavra passou ao Prof. Dr. Antonio Brancaglion Junior, que começou sua apresentação discorrendo sobre o acervo egípcio do Museu Histórico Nacional. Brancaglion explicou que nenhum país das américas possui um acervo egípcio tão antigo – o acervo brasileiro data de 1826 –, nem mesmo os Estados Unidos. Também chamou a atenção para o tamanho do acervo brasileiro, o maior da América Latina. O professor esclareceu que a maior parte do acervo egípcio brasileiro deve ser creditado à atuação de Dom Pedro I: “como Dom Pedro II sempre é considerado o grande intelectual da família, se atribui a ele a totalidade do acervo egípcio, mas, nesse caso, a sua maior parte foi adquirida por Dom Pedro I”.

Brancaglion passou então a contar sobre a importância que era atribuída ao Egito em meados do Século XIX: “a região sempre foi um ponto estratégico no mundo, é uma encruzilhada entre Oriente e Ocidente”. Além do próprio interesse militar no Egito, Napoleão também demonstrou grande inclinação ao aspecto cultural da empreitada. “O Egito era visto como um dos formadores da Civilização e teve profundo impacto também sobre constituição da sociedade brasileira. As moedas brasileiras eram cunhadas com temática greco-romana. O interesse pelo Egito está dentro de todo um contexto, essa ‘egiptomania’ influenciou toda a Europa, e o Imperador não estava alheio a isso”, declarou.

O professor passou a analisar então as imagens da coleção, com destaque para uma foto que exibe o Imperador Dom Pedro II, o fundador do Museu Egípcio do Cairo, também citado no catálogo da exposição, Auguste Mariette, e o famoso estudioso da civilização egípcia, Émile Brugsch. Segundo Brancaglion, a imagem demonstra a aproximação do monarca brasileiro com pessoas que estavam à frente da egiptologia à época: “o Imperador não era só um turista curioso, ele tinha realmente essa preocupação de entrar em contato com o que tinha de mais capacitado em cada assunto. Foi assim em todas as áreas”.

Próximo a falar, o professor especialista em História da Arte Luiz Marques traçou um rico painel da representação da cidade de Pompéia e de seu terrível vizinho, o vulcão Vesúvio, na História da Arte, apresentando uma série de representações imagéticas de diferentes artistas plásticos para a trágica erupção que arrasou a cidade de Pompéia em 79 DC. O professor mostrou também desenhos e outras imagens de autores que idealizavam o cotidiano da cidade e de seus cidadãos. Luiz Marques lembrou que era comum, durante o século XIX, que as pessoas visitassem o Vesúvio, chegando muito perto de sua cratera. O próprio Imperador Dom Pedro II fez esse passeio em sua visita ao Vesúvio.

Em seguida, Sergio Burgi do Instituto Moreira Salles tratou dos primórdios de uma técnica que encantou o Imperador Dom Pedro II e que o converteria em um colecionador: a fotografia. O pesquisador explica o fascínio que essa nova técnica exerceu sobre o monarca brasileiro: “o que a fotografia traz? A fotografia permite diferencial objetos de maneira clara, portanto, indo além da estrutura do desenho. Ela oferece o detalhe fino. A fotografia mais banal entrega essa nova representação do mundo. O processo fotográfico abre, a meu ver, novas possibilidades de comunicação e documentação visual ampliada, gerando um novo processo de representação visual percebido pelo público e mediado por um autor”.

Sergio lembra que o entusiasmo do Imperador com a fotografia o levou a criar uma espécie de iconografia local, o que nos legou uma rica documentação do período do Império: “A iconografia local produzida pelo importante fotógrafo Marc Ferrez é uma espécie de contraponto a esse Imperador que se abriu para o mundo, que deu suporte a diversos autores-fotógrafos”. Sergio Burgi citou um fato curioso e importante em relação à coleção que foi exibida ao público durante a exposição Uma viagem ao mundo antigo: “as imagens do acervo da Biblioteca Nacional foram mantidas sem aplicação em álbuns. Circunstancialmente, permaneceram guardadas, longe da luz, saíram de suas caixas para serem ‘reveladas’ ao público”.

No encerramento, Helena Severo declarou: “este seminário produz um grand finale para um extenso projeto, Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia. Algo que a mim me encanta é quando você consegue trazer para o debate pessoas de perfil multidisciplinar. Foi uma tarde excepcional. Eu terminaria com essa a importância do mecenato. Nós, que somos uma instituição, sobretudo, de memória, temos muito a agradecer a personalidades como a de Dom Pedro II, que se notabilizou pela preocupação com a guarda da memória nacional. A Coleção D. Thereza Christina Maria é um grande patrimônio deste país”. Por fim, citou os envolvidos na montagem dessa importante exposição na Biblioteca Nacional: “agradeço ao maravilhoso corpo técnico da casa, à Maria Eduarda e ao Joaquim, responsável pela curadoria desta exposição”.

Após o encontro, os presentes puderam saborear um coquetel e levaram para casa a sua cópia do belo catálogo produzido pela equipe da Biblioteca Nacional.

1º de março de 2018 - Espaço próximo à entrada do Auditório Machado de Assis por ocasião do seminário Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia.
1º de março de 2018 - Uma seleção de peças da exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia foi exposta junto ao Auditório Machado de Assis, onde aconteceu seminário que celebrou o lançamento do catálogo da mesma exposição.
1º de março de 2018 - Uma seleção de peças da exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia foi exposta junto ao Auditório Machado de Assis, onde aconteceu seminário que celebrou o lançamento do catálogo da mesma exposição.
1º de março de 2018 - Helena Severo faz a abertura do evento tendo à esquerda o curador da exposição Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia, Joaquim Marçal, e à direita coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, Sergio Burgi.
1º de março de 2018 - Maria Eduarda Marques, diretora do Centro de Cooperação e Difusão da BN, fala durante o seminário Uma viagem ao mundo antigo - Egito e Pompeia.
1º de março de 2018 - À esquerda, Luiz Marques, professor do Departamento de História da Unicamp; à direita, Antonio Brancaglion Junior, curador da Coleção Egípcia do Museu Nacional da UFRJ.