Pedro Paulo Catharina e a formação do campo literário brasileiro a partir da ‘Coleção Econômica’ da Livraria Laemmert

terça-feira, 20 de março de 2018.
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pesquisa, pesquisador, Programa Nacional de Apoio à Pesquisa
A produção literária brasileira e os impressos que circularam no país durante o século XIX, fonte para pesquisadores de várias áreas de conhecimento, ganharam maior visibilidade desde a implantação da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

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O pesquisador Pedro Paulo Catharina.
O pesquisador Pedro Paulo Catharina.

Anúncios de livrarias, críticas e ficções veiculadas em jornais e revistas de todas as regiões do Brasil permitem um novo olhar sobre o que se produzia, traduzia, vendia e também sobre os hábitos de leitura, revelando aspectos que as Histórias Literárias tradicionais ignoraram ou ocultaram.

O projeto do pesquisador Pedro Paulo Catharina pretende se debruçar sobre uma coleção de livros baratos postos à venda no final do século XIX, anunciada em diversos jornais do país. Intitulado A ‘Coleção Econômica’ (1895-1898) da Livraria Laemmert & C. Editores na formação do campo literário brasileiro, o projeto interroga a escolha, por parte dos editores-livreiros desta famosa livraria da Rua do Ouvidor, de romances exclusivamente estrangeiros – em sua maioria franceses –, traduzidos, para compor uma coleção que almejava sucesso de venda, numa época em que a literatura brasileira estaria buscando fortemente sua afirmação face à literatura europeia.

Explorando o acervo físico da FBN, que possui exemplares da coleção, e o acervo digitalizado, o pesquisador ambiciona ainda investigar, a partir de documentos, a origem da coleção e as relações de parceria entre editores e livreiros (agentes mediadores do campo literário), que teriam assegurado a difusão desses romances no país.

Na abordagem metodológica adotada, os livros da “Coleção Econômica” da Laemmert & C. Editores são elementos constituintes de um patrimônio cultural comum que produz, no século XIX, uma cultura internacionalizada, fazendo com que brasileiros, portugueses e várias outras nações compartilhem um mesmo gosto literário, apesar das diferenças políticas e geográficas, formando, desse modo, como nos lembra a pesquisadora Márcia Abreu, “uma comunidade letrada transnacional”. Nessa perspectiva, não cabe a noção de “influência”, mas de “apropriação”, como propõe Roger Chartier, sendo a produção literária francesa fundamental para a cultura brasileira naquele período, em muito determinante para a formação do gosto literário brasileiro e fundamental para a produção de escritores locais.

Pedro Paulo Catharina é doutor em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor de Língua e Literatura francesas da mesma instituição. Nos últimos anos, tem se dedicado aos estudos da literatura francesa e sua presença no Brasil, a partir do conceito de campo literário, de Pierre Bourdieu, privilegiando o naturalismo, mas também o decadentismo e as relações entre a literatura e a pintura. Publicou em 2005, pela editora 7Letras, o livro Quadros literários fin-de-siècle; um estudo de Às avessas, de Joris-Karl Huysmans. Com Celina Moreira de Mello organizou, em 2006, o livro Crítica e movimentos estéticos: configurações discursivas do campo literário e, em 2010, Cenas da literatura moderna, ambos pela editora 7Letras. Com Leonardo Mendes, foi responsável por 4 verbetes sobre o naturalismo no Brasil do recém-lançado Dictionnaire des naturalismes (Honoré Champion, 2017). É membro correspondente da Société Joris-Karl Huysmans (Paris) e líder, com Celina Moreira de Mello, do grupo de pesquisa ARS (Arte Realidade Sociedade), credenciado pela Fundação Biblioteca Nacional. Participou, de 2011 a 2015, do projeto de cooperação internacional "A circulação transatlântica dos impressos e a globalização da cultura no século XIX (1789-1914), coordenado pelos professores Drª Márcia Abreu (UNICAMP) e Dr. Jean-Yves Mollier (Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines).