Texto e imagem na obra de Raul Pompeia é o tema da pesquisa de Gilberto Araújo

segunda-feira, 7 de maio de 2018.
Perfil
Raul Pompeia, pesquisa, pesquisador, Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, literatura, literatura brasileira, história da Biblioteca Nacional
O ano de 1888 foi decisivo na carreira do escritor Raul Pompeia, não apenas pela publicação de ‘O Ateneu’, com favorável acolhida crítica, mas também pela abolição da escravatura, causa que, irmanada ao republicanismo, representava suas lutas máximas. Desfeitas as ilusões sobre a recém-proclamada República de 1889, a vida de Raul parece refletir a tensão da época na capital federal, assolada pelo autoritarismo de Floriano Peixoto e pelas inúmeras manifestações civis e militares contra o presidente marechal.

Conquanto pulverizasse na imprensa duras críticas ao regime, Pompeia assumiu postura francamente florianista, colhendo inimizades, inclusive entre antigos parceiros de letras e ideologia, como Olavo Bilac e Luís Murat. É sob rumores de protegido do ditador que ele assume, em 1894, a direção da Biblioteca Nacional, onde permanece até 1895, após a deposição de Floriano por Prudente de Morais, que também exonerou o escritor da função de professor de Mitologia na vizinha Escola de Belas Artes. Nesse biênio conturbado, envolveu-se em muitas querelas na imprensa e desgastou-se psiquicamente, tendo cometido suicídio em dezembro de 1895.

Sua breve passagem pela Biblioteca Nacional carece de estudo mais acurado. Seus principais biógrafos abordam-na muito superficialmente, pois privilegiam as acaloradas discussões na imprensa nesse período. A lacuna difunde a falsa ideia de uma direção anódina, mas, de acordo com valiosos documentos depositados na Biblioteca Nacional, temos acesso à contribuição efetiva de Pompeia.

O objetivo do projeto de pesquisa do doutor em Letras Gilberto Araújo – no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, edital 2017, da Biblioteca Nacional –, intitulado A produção verbovisual de Raul Pompeia no acervo da Biblioteca Nacional, não é propriamente recuperar detalhes biográficos da atuação de Raul Pompeia como diretor, visto que a documentação a respeito desse importante escritor na Biblioteca Nacional é muito mais rica e variada, ultrapassando, com larga folga, a virada de 1894 para 1895: sua primeira publicação registrada na instituição data de 1874, aos 11 anos de idade. A intenção do pesquisador é estudar as obras de Raul Pompeia que promovem a convivência de signos verbais e visuais, de modo a permitir análise articulada e sistemática dessas duas linguagens, aqui componentes de um complexo semiótico pioneiro nas artes brasileiras do século XIX.

Segundo Gilberto Araújo, trata-se de rastrear ressonâncias da produção plástica na obra estritamente literária do autor, rompendo a fronteira entre a pena e o pincel. O autor parte de quatro focos de pesquisa:

  1. caricaturas e charges na imprensa periódica;
  2. ilustrações do romance O Ateneu;
  3. poemas em prosa (“canções sem metro”) ilustrados; e
  4. capas, ilustrações dispersas e vinhetas de obras próprias e/ou alheias.

Alicerçado em material ainda não explorado, o projeto tem como fonte de pesquisa principal o acervo da Biblioteca Nacional, onde, no caso de Raul Pompeia, ex-diretor da instituição, repousam vários itens únicos exclusivos, como manuscritos, cartas e desenhos originais.

Gilberto Araújo é professor adjunto de Literatura Brasileira e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da UFRJ. Doutor em Letras Vernáculas pela mesma instituição, publicou diversos ensaios e fez palestras no Brasil e no exterior, tendo passado por centros culturais e universidades de Lisboa, Coimbra, Porto, Aveiro, Madri, Paris (Sorbonne Nouvelle III, IV e VIII), Lyon, Londres (King’s College), Viena, Pádua (Itália) e Santiago do Chile. Integra o projeto Portugueses de Papel, associado à Universidade Nova de Lisboa, à Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 e à University of Colorado (Boulder, EUA). Organizou as Melhores crônicas de Humberto de Campos (Global, 2009) e preparou, para a Unicamp, a reedição das Canções sem metro, de Raul Pompeia, livro sobre o qual escreveu sua dissertação de mestrado. Prefaciou e organizou a última edição de O Ateneu lançada em Portugal pela editora Glaciar, em parceria com a Academia Brasileira de Letras. Em 2015, prefaciou, para a Imprensa Oficial Graciliano Ramos, a reedição de Ninho de cobras, autor sobre cuja obra tem se debruçado nos últimos anos, pois organiza sua reedição pela Editora Contracapa. É autor do livro de ensaios Literatura brasileira: pontos de fuga (Verve, 2014), Júlio Ribeiro (ABL, 2011), dentre outros títulos. Foi pesquisador da Academia Brasileira de Letras, condição em que preparou e prefaciou reedições de Artur Lobo, B. Lopes, Júlia Cortines, Luís Guimarães Júnior e outros. Atualmente, desenvolve e orienta pesquisas sobre o poema em prosa no Brasil e as relações entre literatura brasileira, gastronomia e artes plásticas. É bibliófilo.