Evento discutiu o livro fotográfico no Brasil, reunindo fotógrafos, editores e especialistas

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018.
Evento
livros, livro fotográfico, fotografia, iconografia
Na última sexta-feira, 7 de dezembro, a Biblioteca Nacional (BN) abriu as portas do Auditório Machado de Assis para a mesa-redonda “O livro fotográfico no Brasil: a autoria e edição de livros fotográficos no país e sua integração à Coleção ‘Memória Nacional’”. O encontro contou com mediação do servidor da Biblioteca Nacional, Joaquim Marçal, um especialista na área do livro e da Fotografia.

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7 de dezembro de 2018 - Mesa-redonda “O livro fotográfico no Brasil: a autoria e edição de livros fotográficos no país e sua integração à Coleção ‘Memória Nacional’”.
7 de dezembro de 2018 - Mesa-redonda “O livro fotográfico no Brasil: a autoria e edição de livros fotográficos no país e sua integração à Coleção ‘Memória Nacional’”.

Alessandra Moraes, Chefe da Divisão de Depósito Legal, abriu o evento destacando a importância do envolvimento de editoras e autores, bem como de todos que publicam obras, na formação da Coleção ‘Memória Nacional’, constituída na sua maior parte pelas publicações que são reunidas na Biblioteca Nacional a partir da Lei do Depósito Legal. Reforçando o compromisso na divulgação do Depósito Legal e na captação de publicações, Alessandra  declarou: “eu sou o rosto por trás dos e-mails que vocês recebem, alguns insistentes pedindo que nos remetam suas publicações, e outros de agradecimento pelas obras recebidas para a Coleção que, mais do que da Biblioteca Nacional, é de todos nós.”

Em seguida, subiram ao palco Luciana Grings, Coordenadora de Serviços Bibliográficos, e Diana Ramos, Chefe da Seção de Iconografia.

Luciana Grings explicou que o Depósito Legal não é uma invenção brasileira, mas sim um dispositivo legal que existe há séculos em outros países do mundo, importante para a montagem de uma coleção que seja um reflexo da cultura do país: “é justamente esse manancial de documentos e informações depositados aqui que nos permitem mostrar nossa cara para pesquisadores do mundo inteiro”.

Toda publicação com conteúdo intelectual deve ser remetida à Biblioteca Nacional. Luciana citou os folhetos de cordel – gênero literário que conquistou recentemente o título de ‘Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro’: “estivemos junto do IPHAN nesse processo, fizemos a aproximação com os cordelistas e as instituições detentoras de acervos, o que nos permitiu aumentar significativamente nosso acervo nesse gênero.

Já a Chefe da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional, Diana Ramos, explicou que o setor foi criado em 1876, como uma divisão de estampas. Atualmente, a Divisão de Iconografia conta com algo em torno de 250 mil peças. “O acervo da Iconografia, assim como outros, foi identificado como patrimônio da Humanidade”, explicou Diana Ramos. É neste setor que ficam os livros fotográficos para consulta, após o respectivo processamento técnico.

A Chefe do setor também percorreu o sistema de catalogação da Biblioteca Nacional (Sophia), mostrando quais são os critérios atualmente em uso para registrar informações sobre os livros fotográficos, tendo percorrido também os padrões utilizados por outras bibliotecas nacionais mundo afora para registro desse tipo de obra. “Estamos considerando novas formas de catalogar o livro fotográfico, justamente porque estamos percebendo a necessidade de diferenciar esse tipo de obra dentro de nosso acervo”, declarou.

Dando seguimento à discussão, o servidor da Biblioteca Nacional Joaquim Marçal subiu ao palco juntamente com um time de craques, que reuniu dois editores brasileiros acostumados a publicar obras fotográficas de grande relevância e sucesso, bem como dois fotógrafos que são considerados expoentes no segmento:

  • Leonel Kaz
  • Carlos Leal
  • Mauro Trindade
  • Rogério Reis
  • Vicente de Mello

Marçal abriu a mesa com uma saudação, celebrando a aproximação desses personagens com a Biblioteca Nacional: “eu pessoalmente fico muito feliz de ver essa discussão. O que a gente quer é aproximar os editores e fotógrafos da biblioteca. O mundo é conectado. Essa discussão é muito importante. A comunidade da ciência da informação e os editores de livros precisam conversar”.

O jornalista e editor Leonel Kaz tomou a palavra em seguida para uma apresentação em que destacou a sua relação com a imagem: “eu sempre fiz o texto no contexto. Para mim, a imagem é o que vale. Na verdade, eu acho que a fotografia é conteúdo puro. O texto vem para completar a imagem, tudo começa com uma ótima fotografia”. Em rápida apresentação com algumas imagens selecionadas, Kaz mostrou pinturas de Paul Cézanne. Segundo ele, o grande pintor francês “passou a modificar a realidade por conta do surgimento da fotografia, movimento que abriu caminho para uma abstração crescente nas artes plásticas”.

Em seguida, o editor da Francisco Alves, Carlos Leal, passou a discorrer sobre o trabalho do editor de livros dedicados à imagem, segmentando seu trabalho em três etapas importantes:

  1. Concepção do livro – a ideia, a linha editorial, a abordagem do tema.
  2. O fazer – é a preparação propriamente da obra. Um projeto de qualidade contribui para que o livro venha a se tornar um sucesso.
  3. Por fim, se o livro não for divulgado e difundido, não adianta que não vai acontecer: “não adianta editar e deixar o livro na garagem”.

Carlos mostrou em seguida alguns dos livros fotográficos que editou juntamente com grandes nomes da fotografia, jornalismo e design.

Para o fotógrafo Mauro Trindade, que falou em seguida, “as pessoas vão embora, mas as obras ficam. Por isso, é importante que os trabalhos sejam mantidos e preservados”. O mediador discutiu o tema da preservação, o que inclui também o registro e catalogação das imagens: “podemos dizer que grande parte das fotografias está digitalizada numa espécie de ‘iconosfera’. Porém, de que maneira vamos encontrar a fotografia?” Mauro reforçou a importância dos processos de indexação daquilo que é produzido. Para o especialista, “sem indexação, é impossível recuperar a fotografia”.

O fotógrafo Rogério Reis mostrou seu trabalho com os livros fotográficos Na Lona e Ninguém é de Ninguém. Neste último, personagens fotografados em praias do Rio de Janeiro são exibidos com tarjas sobre o rosto, o que os torna ‘anônimos’. Rogério tratou também do fenômeno dos ‘fotolivros’, obras de baixa tiragem, com aproximadamente cem exemplares, que são distribuídos e vendidos em eventos – geralmente pelos próprios autores –, como feiras e mercados. Se a produção de baixas tiragens era muito difícil anos atrás, por conta da produção dos fotolitos, um processo caro, atualmente a impressão eletrônica alcançou qualidade profissional com equipamentos muito sofisticados. É possível imprimir fotolivros em baixa tiragem com bom custo e excelente qualidade.

Nesse momento, o mediador Joaquim Marçal fez uma intervenção indicando que considera o termo ‘fotolivro’ inadequado: “fotolivro é aquele tipo de livro de imagens – fotografias pessoais - que as pessoas produzem em um template padronizado em websites especializados”. Segundo Joaquim, o termo ‘livro fotográfico’ seria mais correto, já que preserva o sentido original de termo análogo em francês, o livre photo.

Por fim, o fotógrafo Vicente de Mello apresentou duas de suas obras: Parallaxis e Cinematógrafo. Ambas partem de concepções absolutamente originais e contraintuitivas para a montagem de livros fotográficos provocativos, que subvertem o formato livro e propõem novas formas de interação ao leitor: “sair da curva é o meu ideal quando parto para um novo trabalho”.

7 de dezembro de 2018 - Vicente de Mello apresenta seu Cinematógrafo.
7 de dezembro de 2018 - Mesa-redonda “O livro fotográfico no Brasil: a autoria e edição de livros fotográficos no país e sua integração à Coleção ‘Memória Nacional’”.
7 de dezembro de 2018 - Diana Ramos, Chefe da Seção de Iconografia, e Luciana Grings, Coordenadora de Serviços Bibliográficos.