Entrevista com Lísia Filgueiras, que comanda o projeto Falando de Loucuras na Casa da Leitura

quarta-feira, 10 de abril de 2019.
Evento
Psicologia, literatura
O projeto Literatura Aberta abre mais um ciclo nesta quinta-feira, 11 de abril, com a programação de ‘Falando de loucuras – Literatura e Psicanálise’, numa série de encontros – comandados pela psicóloga Lísia Filgueiras – a se realizar na segunda quinta-feira de cada mês, das 15h às 17h, no Auditório Clarice Lispector da Casa da Leitura.

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Lísia Filgueiras na Casa da Leitura.
Lísia Filgueiras na Casa da Leitura.

O evento 'Falando de Loucuras' na Casa da Leitura vai abordar clássicos da literatura como Machado de Assis, Lima Barreto, Guy de Maupassant, Charles Dickens e Eurípedes. De que maneira as obras desses autores podem enriquecer a discussão a respeito da loucura?

Especialmente no conto O Alienista, Machado faz uma crítica genial, como somente ele é capaz – que poderíamos sintetizar como: “afinal quem e como se estabelecem os critérios que definem o louco?”. Lima Barrreto teve experiências de internações psiquiátricas e sua narrativa é sensível, crítica e direta sobre o modo de “tratamento” que encontrou nos hospitais, principalmente em relação à arrogância com que os profissionais – em especial na psiquiatria –, tratavam os pacientes. De Guy e Dickens quero trabalhar dois contos que dizem respeito também ao diagnóstico do louco. Afinal, quem a sociedade considera louco? Que interesses regem a sociedade ao definir os sãos e os loucos? Esses pontos denunciam uma hipocrisia vigente na sociedade para uma discussão que permanece atual.

Você pode fazer uma breve apresentação do tema que estará em discussão no primeiro encontro, Freud e o encontro com a histérica?

A proposta é discorrer sobre o início da psicanalise, como Freud, a partir do encontro com a histeria, inaugura um lugar de fala ao paciente e, dessa maneira, um modo diferente de contemplar o sofrimento psíquico, tomando o sintoma dos pacientes na sua particularidade. Por si só, essa abordagem caracteriza uma posição muito diferente da medicina da época, que não considerava a própria história e narrativa do paciente. Lima Barreto, em Diário do Hospicio, descreve sensivelmente sua experiencia como paciente, a forma distanciada e arrogante dos médicos que o atendiam, o sofrimento não acolhido dentro da instituição – cuja missaõ deveria ser a de cuidar das pessoas.

Qual será a dinâmica desses encontros? Qual é a duração de cada edição? Em algum momento você abrirá para participação e perguntas do público presente?

A ideia é sempre de estabelecer o debate; os encontros com duas horas de duração estarão sempre abertos a perguntas dos participantes durante todo o tempo. Ao longo de cada edição, apresento e desenvolvo os autores, as obras, os temas, e trago algumas leituras de acordo com o encontro.

O que a leitura e análise de Freud, Foucault e Eurípedes pode nos ensinar sobre a loucura nos dias de hoje? 

Podemos repensar e olhar de modo mais humano para o que chamamos de loucura, e reuni estes três autores para compor um painel de debate: Eurípedes, um dos principais tragediógrafos gregos, traz nessa obra a força e magia de Dioniso; Freud, medico neurologista que se coloca a escutar os pacientes e, assim, inventa a psicanálise; Foucault com sua crítica feroz ao modo como a psiquiatria abordou a loucura. São abordagens importantes e históricas que nos convocam à reflexão.

Os encontros têm um público alvo bem definido, ou qualquer pessoa, independente do nível de conhecimento sobre o assunto, pode comparecer e aproveitar as palestras?

O projeto se intitula Literatura Aberta. Este nome bem representa a ideia de acesso a qualquer pessoa, de qualquer idade, de qualquer formação. Em todos os encontros que proponho, procuro situar as pessoas nas obras, mesmo que sejam novas para elas. E os participantes estão sempre convidados ao debate. A riqueza do encontro se faz na arena do debate, contando com a participação das pessoas: quanto mais plural, mais rico.