Desdobramentos do Dia do Tradutor: entrevista com Andrea Lombardi

terça-feira, 22 de outubro de 2019.
Evento
tradução, mesa redonda
Em celebração ao Dia do Tradutor, a Biblioteca Nacional recebeu a III Jornada do Esttrada no último dia 30 de setembro com uma programação de mesas e debates inspirados no tema ‘A tradução como metamorfose’.

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1º de outubro de 2019 - Andrea Lombardi é o segundo da direita para a esquerda.
1º de outubro de 2019 - Andrea Lombardi é o segundo da direita para a esquerda.

O evento foi realizado em parceria com o Laboratório de Estudos de Tradução e Adaptação - Esttrada – que reúne pesquisadores da UFRJ, UFF, UFMA e de outras instituições – e com o Núcleo de Tradução e Criação da UFF.

Andrea Lombardi, um dos organizadores desta Jornada Esttrada, falou sobre o evento realizado recentemente e sobre sua importância para aprofundar discussões em torno do tema tradução.

Como você avaliou o evento realizado na Biblioteca Nacional?

É sempre difícil fazer uma avaliação imediatamente após o evento, tanto mais em se tratando de um evento em um formato experimental. De modo geral, tivemos gratas surpresas: a resposta à chamada que fizemos foi maciça: recebemos mais de 40 textos para debate, de autoria de tradutores, pesquisadores e professores brasileiros e estrangeiros, e até mesmo de grandes especialistas no campo, como Lawrence Venuti, dos EUA, e Valerio Magrelli, da Itália. Tivemos um público que demonstrou interesse nos debates e mesas-redondas no primeiro dia, e no debate aberto focalizado nos textos enviados no segundo dia. O evento atraiu grande número de estudantes universitários, bem como um bom número de interessados no tema e no campo de estudos da tradução. Além disso, graças ao uso programado da tecnologia de streaming, houve mais de 500 acessos online durante o evento, o que demonstra o excelente alcance obtido e o interesse suscitado tanto no público da Biblioteca Nacional quanto nos universitários.

De que maneira o encontro apoia uma reflexão sobre o trabalho do tradutor?

O objetivo primeiro do encontro foi mostrar que é desejável e necessário alimentar uma troca de ideias e experiências entre tradutores e estudiosos da tradução numa sede paradigmática como a Biblioteca Nacional. O aumento da distância entre a cultura e seu público potencial, ou entre a universidade e a sociedade é lembrado frequentemente, mas eventos como o que realizamos mostram que uma livre troca de ideias pode levar a aprofundar temas importantes numa atmosfera descontraída, sem cair em discussões que são exclusivas para especialistas. O que não significa que não tenha havido debates bem fundamentados com opiniões muitas vezes antagônicas a respeito da provocação contida na chamada: “Seriam traduções elas mesmas transformações?” Houve naturalmente tanto adversários da ideia segundo a qual a palavra “metamorfose”, em suas múltiplas acepções, possa representar o processo tradutório, quanto seus defensores, que reivindicaram a metamorfose como uma metáfora apta a figurar no complexo processo criativo que se realiza a cada tradução. A reflexão que propusemos para o debate não almejava chegar a descrições definitivas do processo de tradução, tampouco a impor regras ou receitas prontas para o trabalho do tradutor. Mas ela, sem dúvida, representou uma válida contribuição para a reflexão de caráter teórico e mesmo para o campo da filosofia da linguagem, podendo, a partir daí, fornecer ao tradutor um solo promissor sobre o qual exercer sua prática, ainda que sem qualquer pretensão normativa.

Quais são os desdobramentos a partir da realização deste evento?

Pretende-se que essa primeira iniciativa possa servir de inspiração para outras, análogas, que busquem levar o debate sobre o relevante papel social da tradução e dos tradutores para fora dos muros acadêmicos. Com isso se espera alimentar, ao mesmo tempo, o interesse de professores e estudantes universitários pelo tema. Pretendemos ter contribuído tanto para o reconhecimento do fundamental papel social que as traduções possuem, quanto para uma maior compreensão da complexidade envolvida no processo tradutório para um público mais amplo, muitas vezes acostumado a visões superficiais sobre os “erros” de tradução, entre outras visões depreciativas que infelizmente ainda predominam. Se um evento como esse servir, além de fortalecer os laços entre a universidade e a Biblioteca, também para desmontar preconceitos a respeito da atividade do tradutor, já teremos um desdobramento excelente. Outra consequência que consideraríamos muito bem-vinda seria obter, do próprio público presente, sugestões de aperfeiçoamento para eventos futuros. Considerando que muitas vezes as consequências das ações humanas não se fazem sentir de imediato, será o curso do tempo a nos indicar a real dimensão dos efeitos de nossa iniciativa, seja entre os leitores e frequentadores da Biblioteca, seja entre os professores e estudantes envolvidos.

30 de setembro de 2019 - Fabio Lima, da Biblioteca Nacional, e Vitor Alevato do Amaral (UFF / vice-líder do Esttrada).
30 de setembro de 2019 - Paulo Henriques Britto, Luciana Villas Bôas, Susana Kampff Lage e Evando Nascimento.
30 de setembro de 2019 - Público presente à Biblioteca Nacional por ocasião da III Jornada do Esttrada.
30 de setembro de 2019 - Público presente à Biblioteca Nacional por ocasião da III Jornada do Esttrada.
30 de setembro de 2019 - André Vallias, Rosa Freire d’Aguiar e Marcelo Diniz
1º de outubro de 2019 - Debates do segundo dia de evento.