Rainer Guggenberger e a pesquisa sobre ligaduras gregas em obras renascentistas arquivadas na Seção de Obras Raras da Fundação Biblioteca Nacional

segunda-feira, 2 de março de 2020.
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Pesquisador da Fundação Biblioteca Nacional pelo Programa de Apoio à Pesquisa (PAP) da Biblioteca Nacional, Rainer Guggenberger desenvolve o projeto de pesquisa “Ligaduras gregas em textos tipografados do século XVI”. As ligaduras gregas consistem em combinações gráficas de letras do alfabeto grego e de símbolos especiais que representam uma determinada sequência de letras e que eram utilizadas, primeiramente, apenas na escrita cursiva e minúscula.

Entretanto, o emprego massivo de minúsculas nos livros impressos do séc. XVI generalizou o uso das ligaduras. Em princípio, existem três tipos de ligadura: 1. aquelas que substituem combinações frequentes de letras; 2. as usadas para desinências de flexões (vale lembrar que o grego antigo tem cinco casos que se manifestam por desinências específicas de substantivos, adjetivos, particípios e pronomes); e 3. as que servem como abreviação e, ao mesmo tempo, como substitutos de palavras inteiras.

A Seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional guarda inúmeras obras que apresentam ligaduras gregas, a maioria impressa nos séculos XVI e XVII. Algumas se destacam por não possuírem folha de rosto, o que dificulta sua identificação. Este é o caso de uma edição renascentista das obras eikones (Imagens) e hetairikoi dialogoi (Diálogos das cortesãs), de Luciano de Samósata, escritor satírico e retórico que viveu entre 120 e 180 d.C. As ligaduras gregas utilizadas na tipografia do século XVI são investigadas, neste projeto de pesquisa, a partir da análise deste exemplar.

O fato de as ligaduras oferecerem obstáculos à legibilidade das obras – mesmo para especialistas em grego – instiga à criação de um catálogo que sirva como manual para a leitura das tipografias renascentistas.

Os objetivos da pesquisa são discriminar as numerosas ligaduras presentes nessa obra do acervo da FBN e organizar um manual que capacite o leitor helenista à leitura da obra, além de esclarecer como as ligaduras gregas, típicas em obras impressas do século XVI, eram geralmente utilizadas em incunábulos, e, posteriormente, em obras impressas de língua grega dos séculos XVII e XVIII. Com a divulgação do estudo das ligaduras gregas em âmbito nacional, será possível recuperar a legibilidade das obras renascentistas em língua grega preservadas no Brasil.

Rainer Guggenberger é doutor em Letras Clássicas pela Universität Wien (2016), com mestrado em Filosofia, em Italiano e em Letras Clássicas pela mesma universidade austríaca. Desde 2014, leciona Língua e Literatura Gregas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, atualmente, é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas da UFRJ, e também um dos dois editores da revista Calíope: presença clássica. Suas pesquisas abrangem a métrica e a performance da poesia arcaica grega, o uso da poesia pelos filósofos gregos, a história da escrita grega e das suas várias manifestações gráficas e a recepção dos autores antigos no humanismo italiano, sobretudo nas obras vernáculas de Leon Battista Alberti.