Fotonovelas na Biblioteca Nacional

quarta-feira, 29 de abril de 2020.
Notícia
Fotonovelas, imprensa brasileira, Fundação Biblioteca nacional
Você sabia que o Brasil já teve o seu James Bond? E que ele era, afinal, melhor que o agente secreto britânico? Pode ainda citar pelos menos três celebridades que apareceram nos musicais ao vivo que Jerry Adriani apresentava na TV Excelsior? E em que época Erasmo Carlos ostentou um garboso bigodinho? Isso tudo foi mais ou menos quando Antônio Marcos e Vanusa – sim, aquela que reinterpretou o Hino Nacional em plena Assembleia Legislativa de São Paulo – eram considerados o casal-sensação do momento, correto? Se você respondeu sim para essas perguntas, não só está em um dos grupos de risco da Covid-19 como era, provavelmente, um bom leitor de fotonovelas.

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Fotonovela: Agente secreto Jardel Filho enfrenta os lobos do Mar
Fotonovela: Agente secreto Jardel Filho enfrenta os lobos do Mar

Hoje quase esquecidas, embora fenômeno de vendas no Brasil na década de 1970, as fotonovelas foram basicamente as sucessoras dos folhetins, romances publicados nos rodapés de jornais ou em seus suplementos. Desde o século XIX os chamados “romances folhetinescos” destacavam quase sempre temas amorosos, fantásticos e dramáticos, muitas vezes voltados ao público feminino. Com o crescente interesse popular por imagens, essas narrativas passaram a ser desenvolvidas em sequências de imagens, formando, assim, o embrião das fotonovelas: folhetins ilustrados em quadrinhos. Com a fotografia, tempos depois, o gênero foi reinventado.

As fotonovelas surgiram na década de 1940, na Itália pós-Guerra, em revistas que publicavam adaptações de filmes para os quadrinhos. O sucesso da fotonovela foi, de fato, proporcionado pela popularização do cinema nesta época. Aqui por estas bandas, entre 1949 e 1980, cerca de trinta títulos de revistas de fotonovelas foram publicados. Destes, os maiores foram Grande Hotel, Sétimo Céu e Capricho – a mais vendida, com tiragens aproximadas de 400 mil exemplares por edição. Muitas dessas revistas nada mais que republicavam fotonovelas produzidas na Itália para o público nacional, mas, seguindo o exemplo de Sétimo Céu, da Editora Bloch, algumas se arriscaram a produzir suas próprias narrativas, “abrasileiradas”. Faziam parte de suas fantasias os ambientes de praia e o clima ensolarado, com sungas, biquínis e estrelas como Vera Fischer, Carlos Imperial, Jerry Adriani e Agnaldo Rayol. Foi nas páginas de Sétimo Céu, edição nº 188, de novembro de 1971, que Edu Braga, o 007 tupiniquim interpretado por Jardel Filho, salva a vida do craque do tricampeonato brasileiro Jairzinho de uma quadrilha de malfeitores chamada “Campeões da Capoeira”, chefiada pelo temivel Mefisto. Cenas de ação e suspense, garotas lutando com roupas de banho e um final apoteótico no Maracanã.

Nos anos 1970 as fotonovelas nacionais flertavam com a televisão, emprestando seus atores e celebridades. Por volta de 1980, no entanto, as fotonovelas entraram em declínio, sobretudo por conta da popularização da televisão, que passava a ser o centro das atenções do grande público. Muitas publicações originalmente de fotonovela, como a Contigo, tiveram que se reinventar, passando a tratar da sucessora do gênero: a telenovela.

Se você busca reviver um pouco dos mais de trinta anos em que a fotonovela teve espaço na imprensa brasileira, além de repensar o papel do gênero frente à dramaturgia e a comunicação de massa nacionais, o acervo de fotonovelas da Biblioteca Nacional é uma opção. Pode-se achar aqui, a título de curiosidade ou pesquisa acadêmica, algumas importantes figuras da televisão e do cinema brasileiros – com algumas rugas a menos, é claro!

 (Bruno Brasil)

Fotonovela: Agente secreto Jardel Filho enfrenta os lobos do Mar
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