Quarentena e isolamento: O Lazareto de Ilha Grande, construção do Império para viajantes e imigrantes

segunda-feira, 20 de abril de 2020.
Notícia
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O Lazareto de Ilha Grande, inaugurado em 1886, era destinado a viajantes e imigrantes em geral, ao contrário do Lazareto da Gamboa, ou do Hospital da Ilha do Bom Jesus da Coluna, destino majoritário de escravizados africanos oriundos do tráfico transatlântico que deveriam cumprir isolamento para tratamento e controle de contágio de doenças infecciosas.

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Na carta hidrográfica “Enseadas do Abrahão e das Palmas”
Na carta hidrográfica “Enseadas do Abrahão e das Palmas”

O Lazareto de Ilha Grande funcionou como centro de triagem e isolamento. Sua construção foi resultado do estudo de profissionais do Império e ficou a cargo do engenheiro Francisco Antonio de Paula Freitas. Sua localização, na enseada de Abraão, permitia a ancoragem espaçada de navios, e o fato de estar localizado em uma ilha favorecia o isolamento do continente. Este lazareto atendia mais a prática da quarentena e do isolamento preventivo, do que a um serviço hospitalar, pois o objetivo era manter observação sobre passageiros que pudessem representar ameaça à saúde pública. No lazareto os doentes não seriam tratados. Estes deveriam ser encaminhados a outra edificação destinada para tal.

O período de quarentena na Ilha Grande também servia para práticas destinadas não apenas aos passageiros, mas também a ações profiláticas destinadas à desinfecção de cargas e bagagens que pudessem estar contaminados.  O Decreto 9.554, de 3 de fevereiro de 1886, que tratava da reorganização do serviço sanitário no Império tinha um capítulo inteiro dedicado aos lazaretos, e artigos específicos sobre o de Ilha Grande, dada sua importância na estrutura da saúde pública.

Seus serviços estavam divididos entre administrativos e médicos. O decreto estipulava ainda o período de quarentena específico para suspeita de cada doença: oito para febre amarela, dez para cólera e 20 para peste, de acordo com o ciclo de incubação do agente causador de cada doença. As instalações do Lazareto de Ilha Grande assemelhavam-se à de um navio, divididas em primeira, segunda e terceira classes. Os quarentenados arcavam com taxas de internação estipuladas pelo governo e podiam manter consigo alguns poucos objetos pessoais depois de desinfeccionados. Eram mantidos sob vigília de força policial, para garantir o cumprimento das medidas de quarentena, uma vez que nem todos concordavam com o isolamento.

O Lazareto de Ilha Grande continuou suas atividades mesmo com o fim do Império. A construção de uma represa e do aqueduto, em 1893, representou grandes melhorias para o complexo. Além destas, outras obras continuaram trazendo benfeitorias para o lazareto. Contudo, é possível afirmar que funcionou por pouco tempo, por menos de 30 anos, encerrando suas atividades como tal em 1913. No Governo Vargas, o complexo foi utilizado como presídio político. Por ordem do Governador Carlos Lacerda, em 1962, o complexo foi destruído restando apenas ruínas do Lazareto, que é hoje um dos principais pontos turísticos não naturais da Ilha Grande.

(Diana Ramos)

Na carta hidrográfica “Enseadas do Abrahão e das Palmas” da Diretoria de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha de 1934 é possível visualizar a Ilha Grande e suas enseadas, como a Abraão, onde as embarcações ancoravam para inspeção.