18 de maio, dia da Luta Antimanicomial

segunda-feira, 18 de maio de 2020.
Notícia
manicomio, Luta Antimanicomial, Fundação Biblioteca nacional
18 de maio foi instituído como Dia Nacional da Luta Antimanicomial no Brasil em homenagem à luta dos profissionais de saúde por um tratamento mais humano aos usuários do sistema de saúde mental. Uma luta que ganhou força no contexto da abertura da ditadura militar, quando surgiram as primeiras manifestações no setor de saúde. No bojo destas, surge o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, que logo assumiria um importante papel na crítica da política de assistência psiquiátrica da ditadura: suas reivindicações incluíam o fim do uso do eletrochoque e de outras práticas de “tratamento” – que se assemelhavam às torturas comuns nos porões da ditadura –, melhores condições de assistência à população e pela humanização dos serviços. Este movimento dá início a uma greve (durante oito meses no ano de 1978) que alcança importante repercussão na imprensa à época.

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Na foto, temos Nise da Silveira e sua turma da faculdade de Medicina da Bahia, na década de 1920
Na foto, temos Nise da Silveira e sua turma da faculdade de Medicina da Bahia, na década de 1920

O ano de 1987 seria de fato a data onde o movimento antimanicomial se firmaria como força social relevante, com a divulgação do chamado “Manifesto de Bauru”, que entre outras coisas instituía o lema do movimento: por uma sociedade sem manicômios. Logo ganhou vida a Articulação Nacional da Luta Antimanicomial, guiada pelos princípios do manifesto. O movimento desde então busca levantar discussões sobre a loucura para além do limite assistencial, em prol de novos métodos de tratamento de forma humanizada, não-institucionalizada, tendo por objetivo tornar pública a luta pelos direitos das pessoas em sofrimento mental, pelo bem-estar e pela dignidade desses indivíduos e de suas famílias, envolvendo atividades que em muito ultrapassavam as do campo convencional da saúde. Seu objetivo principal era o fim das instituições manicomiais e o desenvolvimento de serviços de saúde abertos, para além dos muros de hospícios e manicômios, vistos como dispositivos incutidos de violência física e simbólica que, através de uma aparência protetora, isolavam da sociedade aqueles indivíduos considerados “loucos”, invisibilizando dessa forma os processos sociais e históricos de produção de loucura, isentando a sociedade de culpa nesse processo eminentemente social. Importante para o movimento era a contextualização histórica do próprio diagnóstico, sempre em constante mudança, do que seria de fato a loucura, vista como construção ideológica: pessoas com problemas de depressão, alcoolismo, mulheres e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, não se adequavam aos padrões de moralidade impostos pelos bons costumes e pela lógica do trabalho produtivo, já foram considerados loucos e internados nessas instituições.

Na foto, temos Nise da Silveira e sua turma da faculdade de Medicina da Bahia, na década de 1920. Dra. Nise foi uma das primeiras brasileiras da história a se formar em Medicina, e seu trabalho e estudos sobre a psiquiatria tornou-a uma das precursoras da reforma psiquiátrica no Brasil, tendo fundado nos anos 1950 o Museu de Imagens do Inconsciente e a Casa das Palmeiras, dois importantes espaços de reabilitação da saúde mental a partir de terapia ocupacional e artes, um dos grandes legados de Nise da Silveira para a luta antimanicomial brasileira e mundial.

(Thiago Alencar)