Foi também em Adis Adeba que, em 2001, se aprovou a transformação da OUA na União Africana a partir do ano seguinte, e nessa cidade mantém-se a Comissão da União Africana. Hoje reunindo 55 países membros, a União Africana não se restringe à concertação política e econômica das nações africanas. Pelo contrário, sustenta esforços pela divulgação das culturas africanas no próprio continente e em todo o mundo, de modo especial pela celebração do Dia da África anualmente no 25 de maio.
A cultura brasileira é reconhecidamente tributária da África, das diversas Áfricas que no Brasil se encontraram e, apesar da violência da escravidão, criaram uma nova cultura e uma nova nação. Como explica em entrevista recente o africanista Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras e doutor honoris causa em História pela UFF, "o africano não deu contribuições para o Brasil: o africano ajudou a formar o Brasil! [...] Não foi só um grupo africano que influenciou o Brasil, foram muitos, e com culturas completamente diferentes [...]. O Brasil não repete a África, o Brasil reinventa a África. [...] Entre a África e o Brasil há uma permanente troca, de maneira de viver, de maneira de sentir, pensar e atuar, de falar, dizer, criar. É muito mais profundo do que, simplesmente, contribuir".
A comemoração anual do Dia da África é ocasião de reverenciar a luta política dos países africanos contra o imperialismo europeu dos séculos XIX e XX, e também de celebrar a herança cultural que ajudou a formar o Brasil, país-ponte entre América, África e Europa. Nas palavras de Alberto da Costa e Silva, mais uma vez, é fundamental conhecer a África "para ter também orgulho das raízes do outro lado do oceano. Se nós temos orgulho de nossa herança grega, também temos de ter orgulho de nossa herança cabinda, mandinga, iorubá, fon, fanti, alufá [...], uma história artística extraordinária, que não era estudada nas escolas, o que poderia aumentar a autoestima dos brasileiros".
(Flávio de Alencar)