História do Livro: do Glifo ao Alfabeto

terça-feira, 5 de maio de 2020.
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O que conhecemos como “livro” chegou ao seu aspecto atual após passar por várias transformações, tanto materiais quanto no que diz respeito ao significado. Bem antes dele, porém, já existia a escrita, que pode ser entendida como um conjunto de sinais estabelecido e usado por uma comunidade para representar a língua falada.

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Esta parede do templo funerário do Faraó Ramsés III (1217 – 1155 a. C.) tem inscrições hieroglíficas e cenas de uma batalha naval. A fotografia pertence à Coleção Thereza Christina Maria.
Esta parede do templo funerário do Faraó Ramsés III (1217 – 1155 a. C.) tem inscrições hieroglíficas e cenas de uma batalha naval. A fotografia pertence à Coleção Thereza Christina Maria.

As formas mais antigas de registro são as pinturas rupestres, deixadas em cavernas desde o Paleolítico Superior (há cerca de 40.000 anos), e os petroglifos, sinais gravados em pedra. Trata-se de representações da linguagem, mas ainda não se definem como escrita. Esta viria a surgir muito depois, em vários pontos do mundo – China, Índia, Mesopotâmia, América Central -- e ao longo de milênios, obedecendo a formas e sistemas diversos.

Uma das escritas mais importantes para o estudo das civilizações antigas é a cuneiforme, encontrada na Suméria a partir de 3.200 a. C.; serviu para registrar quinze diferentes idiomas do Oriente Médio, tendo como suporte (superfície) mais comum a argila cozida na forma de tabuinhas. Já no Egito, os famosos hieróglifos e a escrita simplificada conhecida como hierática eram aplicados sobre peças de cerâmica e folhas de papiro, material obtido a partir do caule de uma planta aquática.

Evidências arqueológicas encontradas em antigas inscrições, notadamente as de Biblos e Ras Shamra (antiga Ugarit), na região da Síria, apontam os fenícios, habitantes do atual Líbano e grandes navegantes, como criadores do primeiro alfabeto. Este surgiu por volta da segunda metade do segundo milênio a. C., com 22 sinais gravados da direita para a esquerda, repreentando as consoantes, e teria dado origem às primeiras formas do hebraico e do aramaico. A escrita se espalhou pela região do Mediterrâneo e, segundo a opinião mais aceita pelos estudiosos, foi transmitida aos povos da Grécia diretamente pelos fenícios; isso é atestado pela comparação entre os sinais, bem como pela tradição histórica. Heródoto (ca. 485 – 425 a. C.) se refere às letras como phoinikeia grammata, ou seja, “escrita fenícia”. Por sua vez, as lendas atribuem a introdução do alfabeto a Cadmo, filho do rei de Tiro, uma cidade fenícia.

Na escrita grega mais antiga (séculos VIII e VII a. C.), os sinais eram basicamente os mesmos usados pelos fenícios, com algumas adaptações. A grande inovação foi a inclusão das vogais, que representou uma verdadeira revolução cultural. O alfabeto grego teve muitas variantes, mas a forma que prevaleceu foi o jônico, que chegaria até nós como o alfabeto “clássico”, escrito da esquerda para a direita e composto de 24 sinais. Por outro lado, variantes foram desenvolvidas para registrar outras línguas, particularmente o etrusco, por intermédio de quem o alfabeto chegou até os romanos.

As primeiras inscrições em escrita latina foram encontradas em monumentos datados do final do século VII ou do início do século VI a. C. O alfabeto, porém, só foi fixado no século I a. C., quando os romanos já estavam avançados em sua expansão militar e cultural. Assim como o latim se tornou a base da língua de muitos dos povos conquistados, também o alfabeto latino de 23 letras foi o precursor de todas as escritas da Europa Ocidental, que viriam a se desenvolver em diferentes estilos ao longo da Idade Média.

Muitos textos escritos na Antiguidade foram preservados em monumentos de pedra. Esta parede do templo funerário do Faraó Ramsés III (1217 – 1155 a. C.) tem inscrições hieroglíficas e cenas de uma batalha naval. A fotografia pertence à Coleção Thereza Christina Maria.

Veja um exemplo das representações ideográficas – consideradas proto-escrita -- do antigo México neste fac-símile de uma obra pertencente à Biblioteca Vaticana. Suas 49 folhas são unidas e dobradas em formato de fole.

O mais antigo documento da Biblioteca Nacional é um evangelho escrito em letra minúscula grega. Foi doado pelo Professor João Pandiá Calógeras em 1912 e sua datação foi estabelecida como algo em torno do século XII de nossa era.

(Ana Lucia Merege)