Sangue nos trilhos do bonde: o Rio sob a Revolta do Vintém

sábado, 2 de maio de 2020.
Notícia
Revolta do Vintém, Bondes, Rio de Janeiro, Largo do Paço
Há 140 anos, o Rio de Janeiro, ainda capital do Império, virou de pernas para o ar. No dia 1° de janeiro de 1880, data em que entrava em vigor o aumento nas passagens de bonde para 20 réis, populares se reuniram, por volta do meio dia no Centro carioca, em volta do chafariz do Largo do Paço. E, divididos em grupos, saíram quebrando tudo. Estamos no meio da Revolta do Vintém.

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Revolta do Vintém - Revista Illustrada (1980)
Revolta do Vintém - Revista Illustrada (1980)

Antes de mais nada, um vintém, naquele tempo, significava exatamente o valor no aumento das passagens de bonde: 20 réis, coincidência matemática com o aumento de 20 centavos de Real nas passagens de ônibus que desencadeou uma série de protestos no Brasil de 2013. Mas, ainda em 1880, no Brasil de Dom Pedro II, a coroa chegava à conclusão de que tinha de conter seu déficit.  A forma mais simples de fazer isso, naturalmente, era aumentando impostos. Um, em particular: o do transporte público.

O quebra-quebra que se seguiu foi estimulado por lideranças que, sabendo que o trono balançava, queriam instaurar a República – em especial Lopes Trovão, encarado como a liderança dos revoltosos. O processo todo acabou se tornando uma catarse popular contra os altos índices de desemprego e as condições de moradia e saneamento na capital. A pena do mestre ilustrador Angelo Agostini declarava, do alto de sua Revista Illustrada, a 7 de janeiro de 1880: “Pobre anno-novo fluminense!”

Enquanto as autoridades imperiais e as de oposição esperavam pelo desfecho da situação, os primeiros a pagar o pato foram os condutores dos bondes e os animais usados para tração; aqueles agredidos, estes esfaqueados. Outros veículos, na infelicidade de estarem por perto das zonas de confronto, viravam a sucata que, somada a pedaços de calçamento e trilhos de bonde arrancados, era promovida a munição – ou à barricada. A polícia, claro, teve que entrar na dança: coberta primeiro de insultos, depois de pedras, lascas de madeira, ferro, garrafas e, lá e cá, disparos de armas de fogo, por parte dos mais exaltados. O Exército teve que intervir, em especial no palco mais dramático da onda de violência, a Rua Uruguaiana. 4.000 revoltosos contra 600 militares. 20 feridos e três mortes. A capital paralisou, em terror, nas 12 horas de conflito ininterrupto. Com direito a repeteco nos dias seguintes.

Estudiosos estimam que, por ter unido diversas parcelas da sociedade, a Revolta do Vintém inaugurou as passeatas de protesto, ao menos no Rio. E ela deu certo. Depois de dias violência, ruas fechadas e armazéns saqueados, o imposto caiu. Assim como a popularidade de Pedro II.

(Bruno Brasil)

Revolta do Vintém - Revista Illustrada (1980)