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Antes de mais nada, um vintém, naquele tempo, significava exatamente o valor no aumento das passagens de bonde: 20 réis, coincidência matemática com o aumento de 20 centavos de Real nas passagens de ônibus que desencadeou uma série de protestos no Brasil de 2013. Mas, ainda em 1880, no Brasil de Dom Pedro II, a coroa chegava à conclusão de que tinha de conter seu déficit. A forma mais simples de fazer isso, naturalmente, era aumentando impostos. Um, em particular: o do transporte público.
O quebra-quebra que se seguiu foi estimulado por lideranças que, sabendo que o trono balançava, queriam instaurar a República – em especial Lopes Trovão, encarado como a liderança dos revoltosos. O processo todo acabou se tornando uma catarse popular contra os altos índices de desemprego e as condições de moradia e saneamento na capital. A pena do mestre ilustrador Angelo Agostini declarava, do alto de sua Revista Illustrada, a 7 de janeiro de 1880: “Pobre anno-novo fluminense!”
Enquanto as autoridades imperiais e as de oposição esperavam pelo desfecho da situação, os primeiros a pagar o pato foram os condutores dos bondes e os animais usados para tração; aqueles agredidos, estes esfaqueados. Outros veículos, na infelicidade de estarem por perto das zonas de confronto, viravam a sucata que, somada a pedaços de calçamento e trilhos de bonde arrancados, era promovida a munição – ou à barricada. A polícia, claro, teve que entrar na dança: coberta primeiro de insultos, depois de pedras, lascas de madeira, ferro, garrafas e, lá e cá, disparos de armas de fogo, por parte dos mais exaltados. O Exército teve que intervir, em especial no palco mais dramático da onda de violência, a Rua Uruguaiana. 4.000 revoltosos contra 600 militares. 20 feridos e três mortes. A capital paralisou, em terror, nas 12 horas de conflito ininterrupto. Com direito a repeteco nos dias seguintes.
Estudiosos estimam que, por ter unido diversas parcelas da sociedade, a Revolta do Vintém inaugurou as passeatas de protesto, ao menos no Rio. E ela deu certo. Depois de dias violência, ruas fechadas e armazéns saqueados, o imposto caiu. Assim como a popularidade de Pedro II.
(Bruno Brasil)