23 de Junho - João do Rio e sua alma carioca

segunda-feira, 22 de junho de 2020.
Notícia
Paulo Barreto, João do Rio, jornalista, escritores brasileiros, cidade do Rio, gazeta de notícias, Fundação Biblioteca nacional
Joe, Claude, Godofredo de Alencar, Caran d’Ache, Paulo Barreto. As várias faces literárias do jornalista, cronista, contista e teatrólogo carioca, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, viriam a ser, enfim, personificadas em João do Rio, seu pseudônimo definitivo. Nele, as raízes desse carioca, nascido em 5 de agosto de 1881, e morto na mesma cidade, em 23 de junho de 1921, transbordavam em forma de apuradas narrativas cronísticas que permitiam aos seus leitores fazerem passeios pelas ruas do Rio, e vislumbrarem dândis, malandros, prostitutas, trabalhadores braçais, que transitavam no mesmo espaço urbano de figuras endinheiradas das elites cariocas.

Filho do professor Alfredo Coelho Barreto, estudou com seu próprio pai que buscou imprimir em Paulo Barreto o apreço pelo Positivismo. Ainda adolescente, ingressou na carreira jornalística e, atualmente, é considerado o criador da crônica moderna, dada a excelência analítica e as minúcias cotidianas contidas em sua produção cronística.

Um dos jornais para o qual colaborou, Cidade do Rio - de José do Patrocínio e que contém histórico em nossa BN Digital (http://bndigital.bn.gov.br/artigos/cidade-do-rio/) -, dedicava-se às discussões sobre a abolição da escravidão, dentre outros assuntos de interesse público do Brasil do século XIX. Nele, Paulo Barreto participou escrevendo artigos nos primeiros anos de sua carreira jornalística. Em uma de suas análises para o periódico, discutia a importância de Dumas para a literatura (http://memoria.bn.br/DocReader/085669/9683), bem como as questões sobre o Realismo (http://memoria.bn.br/DocReader/085669/9847).

Segundo ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, foi eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Guimarães Passos, e recebido pelo acadêmico Coelho Neto, em 12 de agosto daquele ano (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/083712/3107). Autor e tradutor de peças teatrais, foi também o primeiro presidente eleito da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, se notabilizando pela defesa dos direitos autorais.

As composições descritivas da vida urbana do Rio, produzidas por Paulo Barreto, atualmente são consideradas as primeiras análises antropológicas e sociológicas registradas no Brasil do século XIX, não só pelo seu interesse em tipos característicos das culturas urbanas cariocas, mas também por suas observações diretas sobre a vida e a linguagem por eles utilizadas. Segundo seus biógrafos, o conto “Os Livres Acampamentos da Miséria”, do livro Vida Vertiginosa, em que conta sua ida ao Morro de Santo Antônio em busca do samba, traz um dos primeiros relatos da vida em uma favela da cidade. O texto foi originalmente publicado na Gazeta de Notícias, em novembro de 1908, com o título “A Cidade no Morro de Santo Antonio – impressão nocturna” (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/103730_04/18583).

Também na Gazeta de Notícias, João do Rio publicou muitas das crônicas e das pioneiras reportagens jornalísticas que renovaram a imprensa brasileira do início do século XX e que seriam posteriormente publicadas em livros de sucesso, como as polêmicas reportagens reunidas em “As Religiões no Rio” (http://memoria.bn.br/DocReader/103730_04/7287), as entrevistas de “Momento Literário” (http://memoria.bn.br/DocReader/103730_04/9411) e a coluna O Cinematographo. Sua obra mais conhecida, “A Alma Encantadora das Ruas”, publicado em 1908, é uma coletânea de textos da Gazeta de Notícias e da Revista Kosmos que trazem um retrato vivo da cidade e de seus moradores, como por exemplo “Mulheres detentas” (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/103730_04/10462), “Comedores de opio” (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/103730_04/9053) e “Elogio do Cordão” (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/146420/1393).

Em 1920, funda o jornal A Pátria. Sua derradeira empreitada jornalística. Viria a falecer em um táxi, em 1921, após ter escrito a última contribuição para a sua seção diária daquele impresso. Seu corpo foi velado na redação do jornal por milhares de cariocas e seu cortejo fúnebre lotou as ruas da cidade que ele tanto amava e tão bem descreveu (http://memoria.bn.gov.br/DocReader/259063/38167).

Suas obras encontram-se em domínio público, disponíveis gratuitamente para leitura em meio virtual, algumas no acervo digital da Biblioteca Nacional.

(Maria Angélica Bouzada e Raquel Ferreira – CPS)