O Genial Machado de Assis

sexta-feira, 19 de junho de 2020.
Notícia
Machado de Assis, literatura brasileira, escritores brasileiros, Fundação Biblioteca nacional
Escrever sobre Machado de Assis é sempre um desafio. Com uma obra extensa e admirável, que transita entre romance, conto, teatro, poesia e crítica literária, é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. Por mais que procuremos uma forma de tratar sua obra como devidamente merece ser explorada, sempre falta algo a dizer: Machado de Assis transcende os limites narrativos de nossa simples linguagem escrita. Nas palavras de Marco Lucchesi, atual presidente da Academia Brasileira de Letras, e curador da Exposição Machado de Assis - 100 anos de uma Cartografia Inacabada (Fundação Biblioteca Nacional, 2008) : Cada um de nós traz uma ideia de Machado. Ideia vaga, talvez, difusa, mas eminentemente sua, apaixonada e intransferível.

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Machado de Assis aos 25 anos.
Machado de Assis aos 25 anos.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e morreu na mesma cidade, em 29 de setembro de 1908. Era filho de Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis. De origem pobre e negra, estudou em escolas públicas e não fez Faculdade. Buscou compensar seus poucos recursos com estudos e acúmulo de conhecimento, cultura, enriquecimento intelectual e crítico. Durante sua trajetória, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e tornou-se notório, ainda em sua juventude, em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Muitas de suas obras circulavam primeiro nos folhetins dos jornais e revistas. Como contista, publicou no Jornal das Famílias Confissões de uma viúva moça, em abril de 1865. O romance Iaiá Garcia foi publicado em 1878, na revista O Cruzeiro. Já Quincas Borba seria publicado na revista A Estação, em 1879. Foi cronista do Gazeta de Notícias entre 1881 e 1897. Posteriormente, seus romances, coletâneas de contos e poesias, foram publicados em livro. É difícil encontrar um autor, das escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX, que não tenha Machado de Assis como seu interlocutor, ou como influência intelectual. Nomes como Olavo Bilac, Lima Barreto, Drummond de Andrade dentre outros, tributam suas obras aquele grande escritor que, ainda em vida, alcançou fama e prestígio pelo Brasil e países vizinhos. Reconhecimento literário esse que o acompanhou ao longo de sua carreira (Amphion, http://memoria.bn.br/DocReader/890170/1373). Além disso, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e seu primeiro presidente. Dessa forma, sua atuação extrapolaria as páginas de seus escritos, para tornar-se um dos que contribuíram para a institucionalização do desenvolvimento intelectual e literário no país (O Cabrião,  http://memoria.bn.br/DocReader/819603/1). Aquele jovem brasileiro negro, de origens humildes, alcançaria assim a consagração pelo seu empenho, pela sua luta, em suplantar a pobreza através do estudo e da dedicação à arte da escrita. O conjunto da sua obra é reverenciado e atual até os dias de hoje, e encontra-se em domínio público, disponível para leitura digital gratuita. Deixou, para nosso deleite, a enigmática relação amorosa entre Bentinho e Capitu, as façanhas de um Alienista que, por temer a si próprio acaba internando-se, as peripécias de um certo Quincas Borba, o ceticismo sombrio de Brás Cubas. Do Romance ao Realismo, suas obras aliam as críticas, à questões de seu tempo, à ficção de uma forma magistral, plena de ironia e sagacidade. Forte, também, era presença do cotidiano do Rio de Janeiro em suas obras. As ruas, igrejas, praias, desenhavam ao leitor as peculiaridades da Cidade. A rua Mata-Cavalos, as igrejas da Candelária, de Santa Luzia, de São Francisco, além dos morros e praças típicos do cotidiano carioca, eram alguns dos cenários que emolduravam as tramas e os mistérios habilmente tecidos por esse mestre. Testemunhou todas as grandes mudanças políticas do Brasil, no Século XIX: passou pelo Império, pela Abolição da Escravatura, pela Proclamação da República. Comentava esses eventos políticos, inclusive utilizando-os como mote para suas obras literárias, como podemos perceber em Esaú e Jacó, que retrata a disputa de dois irmãos, facilmente identificados como a Monarquia e a República. Circulava em ambientes sociais que entrelaçavam personalidades intelectuais e políticas, e a sua presença marcante foi traduzida pelas palavras de Rui Barbosa, proferidas por conta das homenagens em sua despedida final: Modêlo foi de pureza e correção, temperança e doçura; na família, que a unidade e devoção do seu amor converteu em santuário; na carreira pública, onde se extremou pela fidelidade e pela honra; no sentimento da língua pátria, em qué prosava como Luís de Sousa, e cantava como Luís de Camões; na convivência dos seus colegas, dos seus amigos, em que nunca deslizou da modéstia, do recato, da tolerância, da gentileza. Nesse 21 de junho de 2020, contam-se 181 anos da data de seu nascimento. Comemoramos sua a herança literária, composta por nada menos que dez romances, mais de duzentos contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas, obras que foram assinadas como Machado de Assis, M-as, Dr. Semana, dentre outros pseudônimos. E celebramos, igualmente, a genialidade de Machado de Assis, como uma das maiores referências da Literatura Brasileira, e também da intelectualidade e identidade nacionais.

(Raquel Ferreira – CPS )