Mortimer Jerome Adler, filósofo norte-americano e educador

sexta-feira, 26 de junho de 2020.
Notícia
Mortimer Adler, Grandes livros, Clássicos, Educação Liberal, Educação clássica, educação, Fundação Biblioteca nacional
Mortimer J. Adler morreu tranqüilamente em sua casa na Califórnia em 28 de junho de 2001, deixando uma marca indelével na filosofia da educação do século XX. Sua influência é notável em vários aspectos da vida intelectual americana. Apesar de sua reputação como elitista, argumentou veementemente pela democratização das escolas públicas. Preconizando um rigoroso movimento humanista, antipositivista e antipragmatista, enquanto defensor da metafísica e da democracia, no contexto da tradição da filosofia perene, foi pioneiro em compreender que algumas grandes ideias formam o núcleo do pensamento da civilização ocidental e que estas são as chaves para a compreensão dos “grandes livros”, obras fundamentais que há muitos séculos vêm nutrindo o espírito humano.

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Artigo publicado no Jornal dos Sports (22-05-1983)
Artigo publicado no Jornal dos Sports (22-05-1983)

Para Adler a leitura de Tucídides, Sófocles, Platão, Aristóteles, Cícero, Sêneca, Euclides, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Copérnico, Leibniz, a Bíblia, Homero, Dante, Shakespeare, Cervantes, John Milton, Jane Austen, Dickens, Tolstói, Dostoiévski, T.S. Eliot, Hesse, Joyce, Proust e tantos outros autores canônicos, é um ato de cidadania. O polímata norte-americano propunha que o conjunto dos clássicos fizesse parte da consciência comum das pessoas, para uma pedagogia democrática, pela própria condição que esse tipo de leitura oferecia em termos de fortalecimento, refundação e reformulação do pensamento humano. Um “clássico”, no sentido usado por ele, não é sempre uma obra de literatura. É um livro que deu origem aos termos, conceitos e valores mobilizados na vida diária e nos debates públicos. É uma obra indispensável para compreendermos a nós mesmos, nossa sociedade e o mundo em que vivemos.

Utilizando o conceito de “grande conversação” para explicar o que viria a ser a aventura intelectual, por meio da leitura dos clássicos  universais da literatura, filosofia, história, teatro e outras áreas do conhecimento, Adler entendia a melhor educação como o estudo cuidadoso dos “grandes livros” – um estudo no qual os alunos mais experientes ajudam os menos experientes, incluindo os iniciantes. Para ele, somente através do contato com a obra dos autores que construíram o patrimônio cultural do Ocidente é possível alcançar o que denominou "compreensão ampla de ideias e valores".

Nos EUA o movimento dos “grandes livros” se tornou uma causa popular. O alcance do projeto foi amplificado a partir da publicação da coleção "Great Books", da Encyclopaedia Britannica. Conjunto de textos editados por Adler que compunham um corpus literário que considerou centrais à formação humanística do pensamento ocidental moderno.

Em 1982, em reação à crise observada no ensino público americano, Adler e um grupo de outros educadores lançaram o manifesto educacional Paideia. A proposta do movimento era que desde o ensino fundamental os alunos fossem habituados à leitura de grandes obras. Vislumbravam a mesma qualidade de ensino para todos, ideia que ficou expressa no lema: “A melhor educação para os melhores é a melhor educação para todos”.

O manifesto Paideia teve repercussões no Brasil. O professor e acadêmico, Arnaldo Niskier, em artigo publicado no Jornal dos Sports (22-05-1983, http://memoria.bn.br/DocReader/112518_05/17714, chegou a afirmar que a proposta do grupo poderia servir de pretexto para os educadores do país repensarem a realidade educacional brasileira.

A "Proposta Paideia" apareceu em português numa tradução de Marília Lohmann Couri, publicada pela editora da Unb, em 1984. Antônio Paim teceu alguns comentários sobre o livro:

http://memoria.bn.br/DocReader/098116x/12192

Sobre Mortimer Adler (em inglês), no Latin American Daily Post (RJ):

http://memoria.bn.br/DocReader/040380/2934

(Daniel Fernandes, Gabinete)