No final do ano de 2018, a Literatura de Cordel foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural Brasileiro. O reconhecimento é resultado de um longo processo de articulação, que envolveu poetas de cordel e suas entidades representativas, pesquisadores acadêmicos e instituições de guarda de acervos.
A Fundação Biblioteca Nacional guarda em seu acervo folhetos de cordel que começaram a ser organizados como uma coleção no ano de 1985, a partir da atuação do pesquisador Bráulio do Nascimento, especialista em romances e contos populares, e então assessor da Diretoria da Biblioteca. No ano de 2012, a seção de Depósito Legal da Biblioteca realizou uma campanha de captação de folhetos para a atualização do acervo, que segue em curso. Para os poetas de cordel, a Biblioteca Nacional, a partir do registro de autoria, é um importante espaço de referência para a construção das suas identidades como autores.
Mas além dos folhetos, a instituição guarda na seção de Publicações Seriadas um acervo precioso para a história e documentação da literatura de cordel, e que não foi devidamente explorado e divulgado: os artigos publicados nos mais diversos jornais e revistas do país que trataram, ao longo das décadas, desta forma expressiva sob múltiplas interpretações.
O projeto dá continuidade à pesquisa de doutorado da autora sobre o mundo da literatura de cordel no Rio de Janeiro. Em seus estudos anteriores, a autora realizou o levantamento, leitura e análise da produção de livros, teses, dissertações e artigos que trataram da literatura de cordel no Rio de Janeiro, bem como dos folhetos de cordel disponíveis para consulta nos principais acervos públicos da cidade e acervos privados dos poetas. Realizou também trabalho de campo de natureza etnográfica nos locais de produção e circulação da literatura de cordel, além de entrevistas em profundidade com poetas, xilogravadores, vendedores, declamadores, repentistas e pesquisadores.
Historicamente, a presença mais expressiva de poetas de cordel no Rio de Janeiro está relacionada ao espaço da Feira de São Cristóvão a partir da década de 1940, quando se intensificou a migração de nordestinos para o centro- sul do país, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Desde então, poetas e vendedores de folhetos ocuparam também outras praças da cidade. No ano de 1988 foi fundada, no bairro de Santa Teresa, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
A pesquisa analisa que poetas, acontecimentos, movimentos e espaços da cidade receberam atenção nos artigos de jornal; que veículos da imprensa se interessaram por estes assuntos; e que formas de pensar a cidade e os grupos que a ocupam foram veiculadas por tais publicações.
Ana Carolina Carvalho de Almeida Nascimento é doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, com a tese “A vida em desafio: literatura de cordel e outros versos no Rio de Janeiro”. É mestre pela mesma instituição e graduada em Ciências Sociais pela UFRJ e História pela UFF. Realizou pesquisas nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo para a instrução técnica para o Registro da Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.