Menos conhecidas do que as viagens francesas e holandesas ao Brasil, as incursões dos ingleses pela então colônia portuguesa durante o século XVI permaneceram praticamente à margem da historiografia brasileira. Ocorridas em uma época de grandes transformações geopolíticas, que mudaram o equilíbrio de forças das potências europeias na América e no Oriente, revelam o interesse que a Inglaterra nutriu pelo Brasil ao longo do primeiro século de colonização portuguesa.
Como a maioria dos relatos dos viajantes ingleses foi escrita durante o período de antagonismo político entre a Inglaterra da rainha Elisabeth e a Espanha de Felipe II (a quem o Brasil estava submetido), estes trazem, de modo geral, um ponto de vista negativo sobre os povos ibéricos, o que terá provocado o escasso interesse da historiografia luso-brasileira e não estimulado traduções.
Ingleses no Brasil 1526-1608 reúne 12 narrativas de viagem, quase todas inéditas em português. Os relatos percorrem várias fases das relações entre a colônia portuguesa e a Inglaterra, desde um primeiro período de exploração marítima e descobrimento, passando pelas tentativas de estabelecer relações comerciais até às últimas décadas de hostilidade aberta e ataques corsários. A base para publicação do livro foi a pesquisa desenvolvida na Biblioteca Nacional que deu origem ao artigo de mesmo título publicado nos Anais da BN.
Os relatos foram escritos por homens de diferentes níveis culturais e sociais: navegadores, geógrafos, marinheiros, soldados, cirurgiões-barbeiros e, principalmente, mercadores. Foram compostos em uma série formatos narrativos: cartas, notícias, relatórios, depoimentos à justiça, obras de geografia, diários de bordo e relatos de viagem. Pela sua peculiaridade, revelam uma faceta da História do Brasil pouco conhecida.
As narrativas foram traduzidas a partir dos textos originais publicados nos séculos XVI ou XVII e são acompanhadas de notas explicativas. No posfácio temos um estudo sobre as viagens inglesas do período e seções que situam historicamente o autor e o contexto de cada uma das narrativas.
Sheila Hue, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Vivien Kogut Lessa de Sá, professora da Universidade de Cambridge - UK, editaram As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet (Zahar, 2008) e desenvolvem há anos pesquisas sobre os relatos de viagens inglesas ao Brasil no século XVI, tendo publicado artigos e livros sobre o tema. Entre os últimos trabalhos está o capítulo “English Pirates: Early Anglo- Portuguese Relations in the New World”, no volume Transnational Portuguese Studies, organizado por Hillary Owen e Claire Williams, Liverpool University Press (junho/2020).
A Fundação Biblioteca Nacional convida para um episódio da série “Lives da BN”
Quinta-feira, 19 de agosto de 2021, às 17:00
Relatos das viagens inglesas ao Brasil no século XVI
Por Sheila Hue (UERJ) e Vivien Kogut Lessa de Sá (Universidade de Cambridge)
Sheila Hue é pesquisadora, professora do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Publicou e organizou livros e artigos no âmbito dos discursos quinhentistas sobre o Brasil e dos estudos camonianos, como a coletânea de ensaios França Antártica: ensaios interdisciplinares, com Maria Berbara e Renato Menezes, e as edições comentadas 20 Sonetos, de Luis de Camões, e Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, pela editora da Unicamp.
Vivien Kogut Lessa de Sá é professora de estudos lusófonos na Universidade de Cambridge-UK, publicou, pela Cambridge University Press, a edição crítica The Admirable Adventures and Strange Fortunes of Anthony Knivet, e recentemente contribuiu com capítulos para as coletâneas Cultural Worlds of the Jesuits in Colonial Latin America e Firsting in the Early Modern Atlantic World.
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