PLANOR | Em entrevista, Rosângela Rocha Von Helde fala sobre as atividades do PLANOR

quarta-feira, 8 de setembro de 2021.
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Fundação Biblioteca nacional, FBN, Entrevista

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Rosângela Rocha Von Helde, atual chefe do PLANOR
Rosângela Rocha Von Helde, atual chefe do PLANOR

Nesta semana, tivemos a oportunidade de conversar com Rosângela Rocha Von Helde, bacharel em Biblioteconomia e Documentação (UNIRIO, 1994), especialista em Gestão Estratégica e Qualidade (Universidade Cândido Mendes, 2004) e atual chefe do Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras (PLANOR), da Fundação Biblioteca Nacional (2005-). Rosângela atua nas áreas de identificação, análise e descrição bibliográfica de livros raros. Desenvolve pesquisas sobre as temáticas: História do Livro, História das Bibliotecas, Livros Raros, Ex-Libris, Políticas de Gestão de Acervos Raros e Especiais.
Durante a entrevista, ela falou a respeito de diversos temas ligados à atividade do Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras. Veja como foi:

1) Por que a biblioteca, através dos tempos, sempre foi vista como a guardiã da imaginação do homem e da sua produção espiritual e intelectual contra a passagem inexorável do tempo e do esquecimento?

Resp.: A biblioteca simboliza o sonho de todos os povos, desde as mais antigas civilizações, de ter, sob a sua guarda, toda a memória do mundo, como fonte de importância e poder. Por outro lado, seu desaparecimento parcial ou total causa lacunas irreparáveis e a destruição da identidade de uma sociedade. O poder das bibliotecas se situa neste antagonismo. A história da biblioteca se relaciona intimamente com a história do conhecimento humano, bem como de sua preservação e disseminação ao longo dos séculos.

2) O que é o PLANOR e como ele se associa à missão histórica da Fundação Biblioteca Nacional?

Resp.: O PLANOR foi criado em 31 de outubro de 1983, com a nomenclatura de Plano Nacional e Restauração de Obras Raras, subordinado ao Departamento de Processamento Técnico da Fundação Biblioteca Nacional. Tinha, entre seus objetivos, a orientação quanto aos procedimentos e técnicas de conservação e restauração de acervos raros, a implantação de laboratórios de restauração e o treinamento de pessoal em outros estados do país. Seu nome foi modificado para Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras, através da Decisão Executiva Nº. 4 de 08 de novembro de 1994, pelo Ministério da Cultura, passando a ser subordinado à Divisão de Obras Raras do Departamento de Referência e Difusão, onde exercia suas atividades. Em 2004, com a reforma administrativa da Biblioteca Nacional, o PLANOR adquiriu gerência própria, ascendendo hierarquicamente. Hoje em dia, está subordinado à Coordenação de Acervo Especial, do Centro de Coleções e Serviços ao Leitor. O PLANOR desenvolve, desde sua criação, inúmeras atividades no âmbito do acervo raro e de memória, tais como a organização de cursos e eventos informativos e de capacitação, que subsidiam a troca de informações e experiências.  Por ser um setor da Biblioteca Nacional voltado basicamente para o atendimento de demandas externas, realiza assessorias e visitas técnicas; produz documentação especializada; compartilha conhecimentos e experiências em seminário e congressos; mantém e  desenvolve uma coleção documentária interna  para auxílio de suas atividades, que também é acessível ao público, gerencia uma base de dados bibliográfica (Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional), que congrega informações acerca do acervo mais precioso do país; elabora, executa e participa de projetos de pesquisa.

3) No seu âmbito de ação, quais são as atividades realizadas pelo PLANOR?

Resp.: Em 2004, com o novo organograma adotado pela Biblioteca Nacional, o PLANOR passa a ter gerência própria, tendo em vista suas ações peculiares, ficando subordinado diretamente à Coordenadoria de Acervo Especial (CAE) do Centro de Coleções e Serviços aos Leitores (CCSL).           

Atualmente, as atribuições regimentais do PLANOR estão estampadas na Portaria MinC nº 74, de 3 de agosto de 2018:

Art. 46. Ao Núcleo do Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras compete:

I - identificar, coletar, reunir e disseminar informações sobre acervos dos séculos XV a XVIII impressos no exterior, e a partir do século XIX, impressos no Brasil, sob a guarda de outras instituições, que não a Fundação Biblioteca Nacional;

II - difundir a existência e a potencialidade de uso desses acervos através de catálogos impressos e eletrônicos;

III - propor o desenvolvimento de ações de processamento bibliográfico, mediante a aferição do estado da arte de acervos preciosos sob a guarda de instituições cooperantes;

IV - difundir e promover, junto às instituições de guarda de acervos, ações de normalização bibliográfica, de acordo com normas e padrões nacionais e internacionais, no âmbito da Biblioteconomia de Acervos Raros implementadas pela Fundação Biblioteca Nacional; e

V - Prestar assessoria técnica e emitir pareceres em sua área de competência.

BRASIL. Ministério da Cultura. Portaria nº 74, de 3 de agosto de 2018. Aprova o Regimento Interno da Fundação Biblioteca Nacional - FBN. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 6 de agosto de 2018.  Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/3...

4) Quais são os critérios de raridade bibliográfica utilizados?

Resp.: A Biblioteca Nacional buscou elaborar critérios de raridade próprios que qualificassem seu acervo, agregando valores aos critérios já consagrados internacionalmente e aspectos internos. Esses critérios foram elaborados por uma Comissão de bibliotecárias, e oficializados através de uma ordem de serviço (OS-GD12/1984), listando os critérios que são comumente empregados para a qualificação de obras raras, observando as questões condizentes com a sua função de biblioteca depositária, particularizados pela própria natureza de uma Biblioteca Nacional. Nesta Ordem de Serviço, foi destacado ainda, que, de acordo com as particularidades e interesses específicos de cada biblioteca e/ou colecionadores, outros critérios poderiam ser acrescidos. Desde que alicerçados à pesquisas bibliográficas e de história do livro.

Até hoje recebemos relatos de instituições que partiram das informações veiculadas nesta OS, para a criação dos critérios de raridade de suas instituições.

 CRITÉRIOS DE RARIDADE - FBN (Ordem de Serviço 12/1984 – 25/09/1984):

- Todas as impressões dos séculos XV, XVI e XVII;

- Impressões do século XVIII até 1720 (a BN adotou este limite cronológico por questões de economia de espaço físico na Seção de Obras Raras, alicerçada pela inclusão de mais 20 anos após a virada do século, onde entende-se já estarem estabelecidas as técnicas de impressão referente ao século anterior);

 - Obras editadas no Brasil até 1841(produção gráfica se desenvolve a partir do Segundo Reinado – 1831-1840);

- Edições de tiragens reduzidas;

- Edições especiais, de luxo para bibliófilos;

- Edições clandestinas;

- Obras esgotadas;

- Exemplares de coleções especiais, em geral com belas encadernações e “ex-libris”; e

-Exemplares com anotações manuscritas de importância, incluindo-se dedicatórias.

Em 2000, a chefia da Seção de Obras Raras/PLANOR elaborou um trabalho em forma de CD-ROM, hoje esgotado, onde os critérios são exemplificados através de imagens de obras da Seção de Obras Raras dos séculos XV-XVI. Segundo a introdução apresentada “O objetivo desse trabalho  foi produzir um completo instrumento de referência que permita aos usuários acessar a informação e a documentação disponível nas instituições brasileiras detentoras de acervo raro e/ou antigo”.

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Divisão de Obras Raras. Planor. Critérios de Raridade e Catálogo Coletivo do Patrimônio Bibliográfico Nacional – CPBN: séculos XV e XVI. Rio de Janeiro: FBN, [2000]. 1 CD-ROM : il. son., color. Sistema requerido: Windows 95. Compact Disc. Sonopress: 17595/00. Disponível em: < http://arquivo.bn.br/planor/documentos/criterioraridadedioraplanor.pdf>

5) Por que a relação do bibliotecário com o livro raro deve ser íntima?

Resp.: Por vários motivos. Por exemplo, porque são livros que conseguiram sobreviver ao tempo, ao manuseio, às intempéries das ações climáticas, de armazenamento e de possíveis ataques de insetos. São peças que necessitam de um acompanhamento constante para que consigamos preservá-las para gerações futuras. Além disso, carregam em si elementos que registram épocas históricas, marcas de diversos proprietários, sejam pessoas ou instituições que merecem ser desvendados, reconhecidos e descritos através da análise material e pesquisa histórica.  Podem se constituir em fontes de pesquisa para construção de novos saberes. Geralmente são peças únicas ou com poucos exemplares existentes, muito caras ou sem valor estimado, mas que possuem um valor simbólico para seus possuidores. 

6) Quais devem ser as qualificações que um bibliotecário deve ter em relação ao tratamento do livro raro?

Resp.: Na minha opinião, em primeiro lugar, para trabalhar com o livro raro, o bibliotecário deve ter interesse e se identificar com esse tipo de material.

Em relação às qualificações profissionais, podemos citar algumas, como por exemplo, ter conhecimentos de História do Livro e das Bibliotecas nos contextos Ocidental e Nacional; de Bibliografia Material; em Conservação Preventiva em bibliotecas; em Representação Descritiva e Temática; habilidade em trabalhar de maneira interdisciplinar; estar atento às políticas de acesso, reprodução e segurança desse tipo de acervo; interesse em se capacitar.

7) Diante do atual contexto de pandemia global ocasionado pela Covid-19, a equipe do PLANOR precisou se reinventar?

Resp.: No contexto atual, marcado pela pandemia da Covid-19 e a necessidade de isolamento social, realmente tivemos que nos reinventar e adaptar.  Passamos por profundas transformações, principalmente no âmbito profissional. A Biblioteca Nacional, como a maioria das instituições e empresas, optou pelo trabalho remoto e pelo uso intensivo da tecnologia para as reuniões virtuais por videoconferências. Intensificamos nossa comunicação através das Redes Sociais, aplicativos de comunicação e transferência de dados. 

8) Quais foram as principais atividades realizadas em 2020 e quais são os planos para o futuro?

Resp.: A equipe do PLANOR trabalhou com a atualização da base do Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN), que está em fase de aprimoramento após ser transportada para a Rede Memória Virtual Brasileira da BN Digital, onde poderemos reunir e disponibilizar, além dos registros bibliográficos, os arquivos digitais; elaboramos o Boletim Informativo do PLANOR -  Ano 21, Nºs 25/26, 2000/1-2; finalizamos o Guia do Patrimônio Bibliográfico Nacional de Acervo Raro em pdf (2. ed. rev. atual.), ambos disponíveis no site da Biblioteca Nacional; realizamos assessorias técnicas à distância; aproveitamos para darmos andamentos às publicações especializadas que estamos elaborando; nos capacitamos profissionalmente e participamos de eventos como palestrantes; escrevemos e publicamos artigos técnicos; oferecemos cursos de capacitação no âmbito do acervo raro e de memória, através da Plataforma Digital da Biblioteca Nacional (Canal do YouTube), onde alcançamos uma marca superior a novecentos  inscritos. 

Os planos para o futuro se resumem em dar andamento às atividades já desenvolvidas; finalizar as publicações que estão em andamento; oferecer cursos de capacitação e realizar eventos no âmbito do acervo raro e de memória; nos capacitar cada vez mais; continuar a participar de eventos, em que possamos compartilhar nossas experiências e conhecimentos.

9) O Boletim Informativo do PLANOR, publicado semestralmente, procura sempre trazer informações acerca das atividades desenvolvidas pela equipe e por outras instituições que produziram conteúdo no âmbito do acervo raro e de memória. Por que manter a periodicidade e a divulgação desses dados é importante?

Resp.: O Boletim Informativo do PLANOR registra a memória do Setor, da própria Biblioteca Nacional e de outras instituições, que produzem informações e conhecimentos no âmbito do acervo raro e de memória.  Veiculamos, além das nossas atividades informações técnicas e especializadas, a fim de contribuir com outros profissionais. Acreditamos que, preservar a memória do PLANOR, é fundamental para entender sua origem, acompanhar sua trajetória, dar visibilidade a tudo o que foi construído para entender o presente e pensar o futuro.