Manuel Antônio de Almeida foi tema da conferência de Claudio Murilo Leal

segunda-feira, 9 de novembro de 2015.
Evento
Reedições de obras clássicas, literatura, literatura brasileira, 450 anos do Rio de Janeiro
No último dia 5 de novembro, no auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional, foi realizada mais uma palestra do ciclo “Construtores da Literatura Carioca”. O escritor homenageado foi Manuel Antônio de Almeida, que teve seu romance “Memórias de um Sargento de Milícias” analisado por Claudio Murilo Leal. Organizado em parceria com a Academia Carioca de Letras (ACL), no âmbito das celebrações do 450º aniversário do Rio de Janeiro, o projeto inclui mais seis conferências e prossegue até janeiro de 2016.

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Da esquerda para a direita, a mesa composta por Marcus Venício Ribeiro, Claudio Murilo Leal e Ricardo Cravo Albin.
Da esquerda para a direita, a mesa composta por Marcus Venício Ribeiro, Claudio Murilo Leal e Ricardo Cravo Albin.

Na ausência de Renato Lessa, presidente da Biblioteca Nacional (BN), Marcus Venício Ribeiro, pesquisador e editor da BN, fez a abertura do evento, apresentando o palestrante convidado e saudando o público presente. Ricardo Cravo Albin, presidente da ACL, ressaltou, mais uma vez, a excelência e o ineditismo do projeto “Construtores da Literatura Carioca”.

Claudio Murilo Leal, Doutor em Letras e autor de mais de 20 livros, lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Universidade de Brasília (UnB), nas Universidades de Essex, na Inglaterra, de Tolouse, na França, e na Complutense, de Madri. Pertence à Academia Brasileira de Arte e, atualmente, é vice-presidente da Academia Carioca de Letras.

Em sua palestra, que dedicou ao amigo e guru, Fernando Whitaker da Cunha, poeta e desembargador, Claudio Murilo Leal leu trechos do romance “Memórias de um Sargento de Milícias”, que consagrou seu autor. Ele destacou que a obra “delineia literárias aquarelas do Rio de Janeiro da época, de 1808 a 1821, descrevendo, através de seus personagens, os hábitos e costumes, as festas, o sincretismo religioso e a cultura da cidade”.

“Manuel Antônio de Almeida reconstrói a geografia das ruas e esquinas, o ambiente do interior das casas, nos leva ao ponto de encontro dos ‘meirinhos’, oficiais de justiça da época, traçando com sarcasmo o perfil desses profissionais”, observou o palestrante. “O personagem Leonardo é um verdadeiro malandro, um anti-herói, frequentou a escola não mais do que dois anos, lê e escreve mal, tem prazer em desobedecer, envolve-se com duas mulheres, é preso, mas acaba nomeado para o honroso posto de Sargento de Milícias”, acrescentou.

De acordo com o conferencista, a lição que o escritor nos deixa é a certeza de que uma obra literária não tem valor apenas pelo seu enredo. O estilo é valorado pelo vocabulário expressivo, que parafraseia a movimentação da vida, com gírias e ditos populares, e também pela caracterização dos personagens que, como peças de armar, vão montando o viés documental do livro, que se torna quase um romance histórico.

“Os acontecimentos ganham sabor apimentado nas relações da classe média, relatados em linguagem despojada, clara, sucinta, despida de retórica, praticamente jornalística. Assim, o escritor convida os leitores a participarem da vida urbana fluminense do início do século XIX. Manuel Antônio de Almeida criou um novo gênero literário – o brasileirismo urbano -, mas não anteviu que estava realizando uma obra prima”, disse Claudio Murilo Leal.

O palestrante concluiu sua apresentação mencionando que com apenas um romance - Memórias de um Sargento de Milícias -, publicado originalmente em folhetins no Correio Mercantil do Rio de Janeiro, entre 1852 e 1853, como era comum na época, Manuel Antônio de Almeida, formado em Medicina, abandonou os termômetros e entrou para a história da literatura brasileira.

5 de novembro de 2015 - Da esquerda para a direita, a mesa composta por Marcus Venício Ribeiro, Claudio Murilo Leal e Ricardo Cravo Albin.
Da esquerda para a direita, a mesa composta por Marcus Venício Ribeiro, Claudio Murilo Leal e Ricardo Cravo Albin.