Artigo de Helena Severo: Biblioteca Nacional é segura

terça-feira, 12 de março de 2019.
Artigo
segurança, Proteção
As chamas que devastaram o prédio e o acervo do Museu Nacional ainda estão vivas na memória de todos nós. Mais de 200 anos de nossa história e de nossa memória reduzidas a pó em poucas horas.

Fachada do prédio sede da Biblioteca Nacional (4507)

Fachada da Biblioteca Nacional após conclusão das obras de restauração.
Fachada da Biblioteca Nacional após conclusão das obras de restauração.

O que ocorreu na sequência da tragédia é também surpreendente. Mal havia sido controlado o incêndio,  e já um batalhão de autoridades apresentava-se para  “explicar” o inexplicável. Muitas foram as versões mas, até hoje, por incrível que pareça, o Brasil não conhece os responsáveis (pessoais ou institucionais) pela catástrofe. Não há um rol de responsabilidades claro que indique quem respondia, naquele momento, pela segurança e integridade do prédio e do acervo ali guardado.

Desta catástrofe (por estranho que possa parecer)  restaram  consequências favoráveis. A primeira delas foi a de lançar um foco de luz sobre a situação do nosso patrimônio cultural edificado. Museus, bibliotecas, centros culturais:  em que condições funcionam os prédios que abrigam estas instituições? Quais medidas de prevenção a incêndio e outros sinistros estão em curso? Possuem “certificado” do Corpo de Bombeiros?

A grande questão é que não existe uma resposta pontual e assertiva para este conjunto de indagações. Tome-se, por exemplo, a situação da Biblioteca Nacional.

Aqui temos contratada brigada de incêndio em que se revezam  12 brigadistas por 24 horas, extintores, hidrantes externos e internos.  Há reserva técnica de água para os hidrantes e duas bombas exclusivas para o mesmo fim. A Biblioteca Nacional conta ainda com câmeras e um equipamento de detecção e alarme de fumaça recentemente testado e o acervo digitalizado é mantido numa sala-cofre equipada com um sistema automático de combate a incêndio.  Além de para-raios, com descarga vertical, a edificação dispõe de mapa de rota de fuga.

Entretanto, não temos, ainda, o certificado definitivo do Corpo de Bombeiros. Para sua emissão, a corporação faz, desde 2013, uma série de exigências que a BN vem tentando cumprir. Entre idas e vindas, parece que estamos finalmente chegando a um final feliz, inclusive com o apoio do Iphan.  Conseguimos concluir as pendências,  e estamos prontos para realizar obras pontuais por eles solicitadas.  Com isso, encerramos uma saga que se  estende ao longo de todos estes anos, não por incúria dos sucessivos dirigentes da BN, mas com origem nos meandros da pesada burocracia brasileira.

Também vale registrar que, embora a Biblioteca não possua ainda o documento do Corpo Bombeiros, ela não está sob risco. O público que diariamente   frequenta a oitava maior Biblioteca Nacional do mundo pode desfrutar com tranquilidade deste patrimônio maior do Brasil. Estamos permanentemente atentos e podemos dizer mesmo que, hoje, nossa grande prioridade é a segurança do prédio, do acervo, dos servidores e dos visitantes da BN.

Além das questões de segurança, o incêndio do Museu Nacional também chamou atenção para a relevância das grandes instituições culturais do Brasil. Aquelas que Pierre Nora chamou de “lugares de memória” que nada mais são que heranças simbólicas que se materializam em monumentos, museus, bibliotecas, arquivos entre outros.

Estes “lugares de memória” são fundamentais para a construção das identidades nacionais. É através destes signos e símbolos que se desenvolve a ideia de nação e, por consequência, o sentimento coletivo de pertencimento a um determinado povo.

A Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Museu do Ipiranga, o Arquivo Nacional, o Parque das Missões, o Museu Goeldi, a Fundação Joaquim Nabuco, o Parque Nacional Serra da Capivara são alguns exemplos de “lugares de memória”. Preserva-los é tarefa essencial para a salvaguarda dos valores mais caros de nosso país.