Bolsista Pesquisador
Em 1909 o psicanalista Otto Gross (1877-1920) escreveu um opúsculo de pouco mais de cem páginas intitulado “As inferioridades psicopatológicas”. Ao que parece o texto era uma espécie de resposta a seu pai, o criminologista Hans Gross. O velho Gross havia concebido em seu “Degenerescência e deportação” (1905) a idéia de que os sujeitos de mentes degeneradas deveriam ser deportados para colônias bem longe da civilização. O importante é que eles pudessem ser excluídos impedindo uma mistura que certamente colocaria a raça humana em perigo de degenerescência. Hans Gross entendia que as prostitutas, os homossexuais, os vagabundos, os revolucionários, os anarquistas e toda uma gama de sujeitos “anormais” ou desajustados deveriam ser levados para algum lugar do sudoeste da África, ou para alguma ilha dos mares do Sul.
Estes eram, no seu entender, degenerados.
Otto Gross, certamente um degenerado aos olhos do pai, insurgi-se contra essa idéia e afirma em seu trabalho de 1909 que os degenerados são a matéria-prima das evoluções que estão por vir. Para Gross filho o limite entre a genialidade e a degenerescência é tênue. É o gênio que representa a via de emancipação do homem e Gross observa a profunda ligação entre degenerescência, a produtividade e a inovação. É nesse sentido que a decadência é interpretada aqui como fermento para construção de uma nova realidade. Assim Otto Gross pode afirmar que “os degenerados são o sal da terra”.
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