Mario Praz e Alexandre Eulalio: Paisagens históricas e geográficas do Brasil e a estética decadentista

Dezembro, 2006
Flora de Paoli Faria
Pesquisa
Paisagem, Brasil, bolsista pesquisador

Bolsista Pesquisadora

A proximidade de escritas entre os ensaios críticos do italiano Mario Praz, (1896/1982) e do brasileiro Alexandre Eulaio, (1932/1988), já havia sido identificado por José Guilherme Merquior, (1941/1991)1 que reconhece na obra de Eulalio inúmeras simetrias produtivas com seu par italiano, fato que lhe permite atribuir aos dois estetas o epíteto de “críticos em regime de notas”, devido ao hábito de ambos, de recorrer com extrema freqüência a notas de pé de página, nas quais ficava patente o profundo domínio dos temas abordados, sem que jamais dessem por concluído um texto, por mais banal que pudesse ser o assunto. Esse procedimento analítico além de iluminar a face decadentista dos dois ensaístas antecipa estratégias que mais tarde serão exercitadas por outros saberes, assinalando que a compartimentação de saberes, que fundava a crítica da tradição, seria ultrapassada pelas novas exigências representativas que marca a pósmodernidade.

A aproximação entre os dois estetas proposta por Merquior vai mais além ao assegurar que Eulálio certamente lera grande parte da obra de Praz, facilitado nessa sua tarefa pelo fato de ter sido durante cinco anos leitor brasileiro junto ao Instituto Universitário de Veneza. Segundo Merquior, Eulálio, a exemplo de Praz, equaciona jogos de escrita que vão confirmar o perfil de um descobridor de fatos extraordinários, especialmente a cerca do decadentismo, facultando ao esteta brasileiro assumir o perfil de “um Praz brasileiro”.

As sinalizações de Merquior, no decorrer de nosso trabalho de pesquisa possibilitaram verificar a existência de um intenso jogo semiológico entre a produção de Mario Praz e Alexandre Eulálio que permitiu a ambos a expansão da área de atuação do crítico literário, demonstrando uma visceral cumplicidade entre o estudioso e o seu objeto de análise.

O estudo atento do acervo referente a Alexandre Eulalio, depositado na Fundação Biblioteca Nacional, é constituído por cerca de 23 artigos publicados em sua maioria na década de 1960, período em que está à frente do Jornal de Letras, editado pela Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Dentre os diversos temas abordados, fato que mais uma vez irá comprovar o ecletismo discursivo de Alexandre Eulalio, destacamos o Diccionario biobliographico de A.V.A. Sacramento Blake, dedicado ao mapeamento da literatura brasileira do período colonial.

O interesse de Eulalio por esse período de nossa história demonstra sua visão ampliada da arte literária, liberada assim dos grilhões temporais, disponibilizando-a ao público em geral.

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