Bolsista Doutoranda
Durante quatro séculos os bailes pastoris, espetáculos que reeditam o mito cristão da Natividade, persistiram como uma das mais difundidas formas de entretenimento popular no nordeste do Brasil. As festas natalinas brasileiras são oriundas do catolicismo europeu contra-reformista, dos costumes ibéricos do Ciclo do Natal. A sua chegada ao Brasil deve-se, possivelmente, ao trabalho dos missionários jesuítas influenciado pelo teatro quinhentista português. Entre as peças teatrais do dramaturgo português Gil Vicente, 16 delas são Obras de Devoção, e entre estas, 8 possuem a Natividade como tema. Vicente foi o expoente do gênero pastoril na Península Ibérica no início do século XVI. O padre jesuíta José de Anchieta escreveu e encenou no primeiro século da América Portuguesa 12 peças de teatro, todas elas autos pastoris referentes à Natividade, utilizou estes autos como instrumento catequético e de instrução para indígenas e colonos, e sua biografia revela que foi influenciado pelo teatro renascentista de Gil Vicente. Estes dramaturgos compõem o quadro de oposição entre o pensamento medieval e o moderno. O teatro vicentino criticava a sociedade burguesa-mercantil, mas ainda revelava o pensamento religioso; o teatro anchietano visava a manutenção de uma ordem nascente. Ambos trabalhavam com a temática medieval da luta do bem contra o mal, e nos seus autos pastoris afirmavam a vitória do bem através da Natividade.
Neste estudo apontamos características gerais presentes nestes autos de Natal, tanto vicentinos e anchietanos, que vieram influenciar os bailes pastoris brasileiros, considerando aspectos tanto religiosos quanto artísticos, e buscamos demonstrar linhas de causalidade entre estas representações. Considerando aspectos de teorias pós-coloniais sobre a mestiçagem, propomos reflexões sobre as recriações pelas quais passaram estas representações na América Portuguesa.
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