Antecedentes portugueses dos Bailes Pastoris Natalinos do Brasil

Novembro, 2015
Autor(es): 
Mônica Maria de Souza Silveira
Mônica Maria de Souza Silveira
Pesquisa
bolsista doutorando, cultura popular, catolicismo popular, mestiçagem, teatro vicentino, teatro anchietano, Gil Vicente, José de Anchieta

Bolsista Doutoranda

Durante quatro séculos os bailes pastoris, espetáculos que reeditam o mito cristão da Natividade, persistiram como uma das mais difundidas formas de entretenimento popular no nordeste do Brasil. As festas natalinas brasileiras são oriundas do catolicismo europeu contra-reformista, dos costumes ibéricos do Ciclo do Natal. A sua chegada ao Brasil deve-se, possivelmente, ao trabalho dos missionários jesuítas influenciado pelo teatro quinhentista português. Entre as peças teatrais do dramaturgo português Gil Vicente, 16 delas são Obras de Devoção, e entre estas, 8 possuem a Natividade como tema. Vicente foi o expoente do gênero pastoril na Península Ibérica no início do século XVI. O padre jesuíta José de Anchieta escreveu e encenou no primeiro século da América Portuguesa 12 peças de teatro, todas elas autos pastoris referentes à Natividade, utilizou estes autos como instrumento catequético e de instrução para indígenas e colonos, e sua biografia revela que foi influenciado pelo teatro renascentista de Gil Vicente. Estes dramaturgos compõem o quadro de oposição entre o pensamento medieval e o moderno. O teatro vicentino criticava a sociedade burguesa-mercantil, mas ainda revelava o pensamento religioso; o teatro anchietano visava a manutenção de uma ordem nascente. Ambos trabalhavam com a temática medieval da luta do bem contra o mal, e nos seus autos pastoris afirmavam a vitória do bem através da Natividade.

Neste estudo apontamos características gerais presentes nestes autos de Natal, tanto vicentinos e anchietanos, que vieram influenciar os bailes pastoris brasileiros, considerando aspectos tanto religiosos quanto artísticos, e buscamos demonstrar linhas de causalidade entre estas representações. Considerando aspectos de teorias pós-coloniais sobre a mestiçagem, propomos reflexões sobre as recriações pelas quais passaram estas representações na América Portuguesa.