Revista do Livro da Biblioteca Nacional, ano 17, n. 53 – Dossiê Mulheres Escritoras

“(...) Assim como apresenta hoje uma força de trabalho feminina cada vez mais expressiva, constituída de mulheres emancipadas, chefiando empresas ou ocupando cargos de direção, o Brasil também conta com uma massa de trabalhadoras incultas e mal pagas, no campo e nas cidades, e padece com um número ainda imensurável de mulheres que são vítimas, no seu dia a dia, da violência masculina. (...)

Agora a Academia Brasileira de Letras, em cem anos de existência, acolhe a sua sétima acadêmica, Cleonice Berardinelli. Isso é muito bom para as mulheres em geral e especialmente para a nova imortal, que evidentemente ficou muito feliz com a honraria – conforme revela a este número da Revista do Livro, em depoimento concedido em setembro de 2009, quando já era certa a sua eleição. (...)

Nesta longa trajetória de paulatina afirmação feminina, não poderíamos esquecer da primeira potiguar Nísia Floresta (1810-1885), mulher muito à frente do seu tempo, como também daquelas que hoje cultuam, com justiça, a sua memória. Nísia merece de fato todas as nossas homenagens, sobretudo se levarmos em conta que realizou sua obra ainda nos trevosos meados do século XIX, quando pouquíssimas brasileiras ousavam escrever e imprimir suas ideias e opiniões. Hoje já são muitas as brasileiras escritoras. Damos a palavra a algumas delas.

Rosiska Darcy de Oliveira nos fala sobre a trajetória e remarca seu apreço por Clarice Lispector e Simone de Beauvoir. Edla Van Steen, editora de livros e contista premiada, também narra a existência atribulada e sua antiga paixão pela escrita. Paixão tão forte que chega a fazer com que Edla se considere um ‘animal literário’.

Ana Maria Machado menciona as dificuldades que ela própria enfrentou para tornar-se escritora numa terra de escritores. (...) E Ana Arruda Callado explica, no seu depoimento, por que optou por escrever sobre mulheres do passado, as quais, apesar dos limites impostos por uma sociedade patriarcal, conseguiram se sobressair pela ação e pelo pensamento.

São apenas alguns dos nomes de escritoras – além dos já citados, Rosa Maria Gens, Jaqueline Machuca, Irenísia Torres de Oliveira, entre outros – presentes nesta edição, que certamente não estaria completa sem o contraponto dos homens que escrevem sobre mulheres. Situado entre os autores que admiram e prestigiam os textos femininos, Ivan Junqueira usa seu sensível bisturi de poeta e ensaísta para dissecar a poesia de Dora Ferreira da Silva, enquanto o romancista Luiz Ruffato mostra, num ensaio muito bem documentado, que nunca faltaram, desde sempre, bons ficcionistas no Brasil.

Citemos, por fim, o discurso que fez Didier Lamaison ao tomar posse como sócio-correspondente da Academia Brasileira de Letras. Decidimos reproduzi-lo nesta edição porque trata-se, coincidentemente, de um discurso sobre o feminino, e assim caiu como uma luva na temática deste número. Analisando as relações literárias entre seu país e o Brasil, o professor e teatrólogo francês, dono de um pensamento original, sustenta que o Brasil sempre amou a literatura francesa porque a França sempre foi vista, por nossos intelectuais, como uma atraente e sofisticada mulher. Não combina com o nosso dossiê?

Cecília Costa

(texto da apresentação)

Neste número: Ana Arruda Callado, Ana Maria Machado, Cecília Costa, Cleonice Berardinelli, Constância Lima Duarte, Didier Lamaison, Edla Van Steen, Gilda Santos, Irenísia Torres de Oliveira, Irineu E. Jones Corrêa, Ivan Junqueira, Jaqueline Castilho Machuca, Luiz Ruffato, Mário Alves de Oliveira, Nilma Lacerda, Nísia Floresta, Ricardo Vieira Lima, Rosa Maria de Carvalho Gens, Rosiska Darcy de Oliveira, Silvana Moreli Vicente Dias.