Revista do Livro da Biblioteca Nacional, ano 18, n. 54 – Dossiê Joaquim Nabuco

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Diversos autores

“Dois dos nossos mais prestigiados historiadores, Evandro Cabral de Mello e José Murilo de Carvalho, depõem, nesta edição, sobre uma das personalidades mais fulgurantes da vida brasileira. (...) José Murilo de Carvalho, em entrevista à Revista do Livro, fala sobre o legado de Joaquim Nabuco ao Brasil contemporâneo, no qual destaca a profissão de fé democrática – aliás nem sempre tomada aqui como exemplo no decorrer do século XX – do ilustre escritor, político e diplomata pernambucano. Evandro Cabral de Mello, por sua vez, reconstitui, com prestimosa arte, o universo arcaico do engenho de Massangana, onde o autor de Minha formação passou a infância e forjou as bases da sua inabalável convicção antiescravista. (...)

Acrescentamos ainda a esta edição alguns textos clássicos que se publicaram sobre Nabuco, aqui e ali, ao longo dos anos, como os prefácios de José Veríssimo e Gilberto Freyre a edições de Minha formação, e a rememoração, por Augusto Fragoso, da famosa polêmica literária travada em 1875 entre ele, então um jovem aspirante à notoriedade, e o já consagrado romancista José de Alencar.

Mas nosso dossiê não estaria completo caso não incluísse a visão das novas gerações sobre o grande mestre pernambucano (...). Angela Alonso, autora de uma das mais recentes biografias de Nabuco, Joaquim Nabuco: os salões e as ruas, também participa desta edição. Como boa historiadora que é, ela não poderia deixar de levar luz à intimidade do biografado, destacando o seu romance com a bela milionária fluminense Eufrásia Teixeira Leite. Surge ao leitor de suas palavras, com toda a imponência, a figura de Quincas, o Belo, o homem alto, bonito, culto, vaidoso, verdadeiro dândi que, onde quer que fosse, atraía as atenções femininas e provocava, nos homens, um misto de inveja e admiração.

O lado mundano do homem que se vestia no rigor da moda e cuidava tão bem da imagem e dos bigodes não comprometeu a seriedade do pensador e do estadista. Num ensaio erudito, lastreado por impressionante riqueza de associações, o professor João Cezar de Castro Rocha, da UERJ, disserta, a partir da figura venerável de Nabuco, sobre um antigo dilema intelectual brasileiro que os modernistas de 1922 resumiram numa pergunta, ‘Tupi or not tupi?’. Isto é, privilegiar o cânon europeu ou as fontes pátrias de cultura?

Embora, na Europa, se considerasse ‘uma árvore de raízes para o ar’, Nabuco encarou essa questão, ao que parece, sem maiores problemas. Familiarizado tanto com o ambiente rústico dos engenhos quanto com a magnificência dos salões europeus, teria sido um dos primeiros intelectuais brasileiros, de acordo com Castro Rocha, a encontrar um perfeito equilíbrio entre o nacionalismo e o universalismo.

Um outro dossiê trata de leitura, a cuja causa a escritora gaúcha Suzana Vargas, homenageada neste número, se dedica há décadas. (....) Leitura, por sinal, é um tema dos mais palpitantes num momento em que suportes eletrônicos ameaçam substituir os veículos impressos. Vivemos os primórdios de uma ruptura mais radical do que a invenção dos timos móveis de Gutenberg, na opinião do historiador francês Roger Chartier, um dos entrevistados neste número.

A visão de livros transformados em gadgets assusta um pouco, da mesma forma que imaginar-se bibliotecas transformadas em imensos computadores, abertas somente a consultas virtuais, sem um livro ou periódico sequer que possa ser folheado. Chartier, uma das figuras mais respeitadas do mundo no assunto, arrola os prós e os contras dessa verdadeira revolução em marcha. Um ‘pró’ seria a maior facilidade de acesso à leitura; um ‘contra’ é que um livro pode durar quinhentos anos, enquanto um equipamento eletrônico não pode chegar a dez.

Embora adiante que não é nenhum profeta, ele acha que é muito cedo para falar-se na morte do livro como o conhecemos. Ousa até dizer que a humanidade não conseguiria passar sem eles.

Benicio Medeiros

(texto da contracapa)

Neste número: Affonso Arinos de Mello Franco, Ana Ligia Medeiros, Angela Alonso, Augusto Fragoso, Cecília Costa, Eliane Pszczol, Evaldo Cabral de Mello, Gilberto Freyre, Ivan Junqueira, João Cezar de Castro Rocha, José Murilo de Carvalho, José Veríssimo, Julio Daio Borges, Marcos Pasche, Olga Sodré, Olimpio de Souza Andrade, Roger Chartier, Suzana Vargas, Weber Alves Junior.

Características (título)

Ano de publicação: 
2010

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Lançada em 1956 pelo antigo Instituto Nacional do Livro, a Revista do Livro da Biblioteca Nacional contou com nomes expressivos como Carlos Drummond de Andrade, Alexandre Eulálio e Augusto Meyer e continua um importante espaço do pensamento bibliológico, biblioteconômico e bibliográfico brasileiro.