Revista Poesia Sempre, ano 12, n.19 – Augusto de Campos

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“Em Verso reverso controverso, Augusto de Campos escreveu que ‘a poesia é uma família dispersa de náufragos bracejando no tempo e no espaço”. Em toda a sua já cinquentenária trajetória como poeta e tradutor – seu primeiro livro, O rei menos o reino, é de 1951 – Augusto vem se empenhando em estabelecer pontes com/entre esses náufragos. Pontes também entre o passado e o futuro, pois seu olhar criador se volta com o mesmo talento para a tradição e a novidade, para a releitura de poetas clássicos e modernos e para a exploração/invenção de novos suportes, numa poesia que enche os olhos do leitor, rompendo a fronteira entre significante e significado, fazendo as cores dizerem tanto quanto os nomes. Com os novos recursos oferecidos pela informática, Augusto vem realizando experiências com a poesia digital, que ume a cor, o som, a palavra e o movimento, retomando de certa forma o ideário da poesia concreta, com mais vigor e rigor, ainda que isso ‘desafine o coro dos contentes’.

Augusto de Campos vem tendo uma acentuada participação em atividades relacionadas com as novas mídias, apresentando seus poemas em painéis eletrônicos, holografias, projeções em laser, animações computadorizadas e eventos multidisciplinares. Mas também no bom e velho papel, Augusto cria, recria, transcria. Para ele a tradução da poesia é ‘uma forma de aprendizado, de crítica criativa e de conversa inteligente’.

Com o poeta americando e.e.cummings, por exemplo, Augusto mantém um diálogo de mais de quatro décadas, que vem inseminando continuamente a própria produção. Pound, Mallarmé e Maiakóvski são outros interlocutores contumazes, todos tendo em comum a convicção de que a poesia ‘é uma questão de forma, mas também é uma questão de alma’.

Por tudo isso, Augusto tem recebido repetidas homenagens. Primeiro foi a exposição Augusto de Campos – poemas, publicações, manuscritos, vídeos e gravações, realizada na Casa de Rui Barbosa. Em seguida, o Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, que em sua primeira edição foi concedido ao poeta e seu último livro, NÃO poemas. Por fim, este dossiê especial na Poesia Sempre, que a exemplo da edição anterior, dedicada a Ferreira Gullar, traz uma longa entrevista, textos de e sobre Augusto e poemas inéditos.

Para os que pensam que a arte poética está exaurida, Augusto de Campos sentencia: “Tudo está dito. Tudo é infinito”.

Luciano Trigo e Ana Cecília Martins

(texto da apresentação)

Características (título)

Ano de publicação: 
2004

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