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Revista Poesia Sempre, ano 14, n.26 − Portugal
“Palavras iniciais
Portugal, essa tremenda jangada de pedra, no dizer de Saramago, é o tema deste número, que se volta para a poesia contemporânea.
Nossas terras. Tão próximas. E distantes. Eduardo Lourenço já mostrou em A nau de Ícaro que, se o Brasil insiste na rasura insustentável de Portugal em sua cultura e passado, desobrigando-o de um necessário parricídio, Portugal se agarra a uma visão difusa e inacabada de quinto império ao pensar o Brasil.
Optamos pelas potencialidades, de diálogo e reflexão, ao organizar este número, que começa justamente com Manoel de Oliveira, em seu projeto de superação dialética, ao promover as diferenças e a, possivelmente, admirá-las.
O diário de Aniello Avella, professor da Universidade de Roma II e especialista da obra de Manoel de Oliveira, fixa-se no documentário antológico que ele, Aniello, realizou, onde se encontram Manoel e Agustina Bessa-Luís, numa tarde no Porto.
Logo a seguir, o filósofo Victor Mateus apresenta a obra de um dos maiores poetas portugueses da atualidade, Antônio Ramos Rosa, a partir de sua casa, terraço e jardim.
Coube ao olhar atento e sensível do crítico e ensaísta Arnaldo Saraiva a tarefa de apresentar o que de melhor vem realizando a poesia portuguesa, de Herberto Helder a Nuno Júdice, de Pedro Tamen a Rui Lage, num percurso de francas diferenças de ordem formal e ideológica, nos horizontes de uma poesia viva e plural.
O poeta Floriano Martins e o crítico de arte Jacob Klintowitz trazem a grande pintura de Antonio Bandeira, cuja obra representa uma árvore verde para o novo homem, no dizer de seus críticos.
A seção dedicada à poesia brasileira continua aberta a todos os poetas de nosso país e traz alguns nomes que aparecem impressos pela primeira vez.
Na seção intitulada "Sema e Cinema", três ensaios palpitantes abordam a poesia sob o prisma da interculturalidade. Letícia Malard, num texto ousado e belo, aborda as muitas presenças de Drummond, dentro e fora de seus domínios meramente poéticos. Já Constança Hertz leva à cena a fascinante história do Chaplin Club, 110 Rio de Janeiro da virada da década de 1920 para 1930, e uma rica discussão sobre cinema e poesia. Finalmente, Per Johns assinala com elegância uma reunião da poesia brasileira, que está para sair na Dinamarca, e a motivação arquitetônica que a produziu.
Agradecemos a Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro e Graça Morais, que hoje representam o melhor da arte contemporânea em Portugal. O diálogo está lançado.”
Marco Lucchesi