Por dentro da BN I Divisão de Manuscritos: equipe multidisciplinar faz frente aos desafios do acervo

Um acervo tão rico merece ser não apenas pesquisado, mas também divulgado. Essa é uma missão compartilhada por todos, mas levada à frente principalmente pelas bibliotecárias Eliane Perez – paranaense, especialista em Arte-Educação que passou por vários setores da casa e acaba de atualizar o Guia de Coleções da Divisão de Manuscritos — e Ana Lúcia Merege, mestra em Ciência da Informação e apaixonada por História Antiga e Medieval, que iniciou sua vida profissional em Lisboa e tem uma carreira paralela como escritora de ficção fantástica. Ambas já foram curadoras de exposições na Biblioteca e se empenham em agregar conteúdo às visitas técnicas, além de escrever artigos e textos de divulgação.
manuscritos, acervo

Apesar do nome, a Divisão de Manuscritos não guarda apenas documentos escritos à mão e datilografados, mas também itens como gravuras, impressos, fotografias e microfilmes. Alguns são avulsos – tais como o livro mais antigo da Biblioteca Nacional, um Evangelho em grego datado aproximadamente do século XII –, enquanto outros integram coleções de diferentes procedências. Entre as mais conhecidas estão a Casa dos Contos (fonte importantíssima para o estudo da administração do Brasil no período colonial), a do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (que reúne textos e ilustrações referentes à Amazônia do século XVIII), a do antropólogo Artur Ramos e a do intelectual Nelson Werneck Sodré.

Para trabalhar com essa diversidade, só mesmo uma equipe multidisciplinar, capaz de produzir informação e conhecimento que vão além do tratamento técnico. Este é desempenhado por todos, mas os perfis diferenciados permitem o aprofundamento em áreas diversas e auxiliam na comunicação com o público.

A importância de contar com profissionais de diferentes formações é sublinhada pela amapaense Luciane Simões Medeiros, que está à frente da Divisão desde novembro de 2015, é graduada em História e Arquivologia e fez pós-graduações em História do Brasil e em História da África e do Negro. Antes de entrar para o quadro de servidores, em 2011, ela foi professora do Estado, e a experiência a levou a perceber que os documentos devem ser apresentados dentro de um contexto que propicie a reflexão e o debate. Isso a fez apoiar a criação de um grupo de pesquisa, dentro do qual irá desenvolver pesquisas na área de História Contemporânea e arquivos pessoais.

Os temas preferidos de Luciane são também os de Monique Matias — ex-estagiária da Divisão e formada em Ciências Sociais, com passagem pelo Arquivo Nacional e pelo IPHAN, que pretende se aprofundar em estudos sobre a Educação no Brasil — e da mineira Daniele Cavaliere, bacharel em Arquivologia e mestra em Ciência da Informação, que trouxe para a Divisão a experiência adquirida no Arquivo Nacional e na Fundação Getúlio Vargas, onde trabalhava com arquivos audiovisuais e História Oral. Sua atuação reforça o diálogo com as instituições arquivísticas, necessário para tratar, por exemplo, a chamada coleção Biblioteca Nacional, que contém a correspondência dos dirigentes, os livros de registro das obras e a documentação referente à primeira Escola de Biblioteconomia do Brasil, inaugurada em 1911. A organização desses documentos é uma das principais metas da Divisão e já foi iniciada pela bibliotecária Maria Fernanda Nogueira, egressa da Biblioteca do Parque Lage, que se interessa por memória e artes visuais. A história institucional vem sendo estudada também por Priscila Duarte, que organizou, entre outros materiais, a Coleção Carolina de Jesus, é formada em História e pós-graduada em Gestão e Preservação do Patrimônio Cultural e trabalhou no Arquivo Público do Estado.

Todos os períodos da História do Brasil estão cobertos pelo acervo da Divisão de Manuscritos, e alguns temas se destacam pela quantidade e relevância das fontes disponíveis. Um deles, a História Política e Diplomática do Império e da República, é o campo de estudos favorito do petropolitano Frederico Ragazzi, bacharel em História e especialista em História Militar. Já o cearense Hudson Rabelo, que é formado em Letras e trabalhou como professor em Goiânia, se interessa principalmente pelo acervo ligado às artes, à fotografia e à literatura, o qual inclui contratos, correspondência e originais de escritores como Lima Barreto, Euclides da Cunha e Carlos Drummond de Andrade.

Um acervo tão rico merece ser não apenas pesquisado, mas também divulgado. Essa é uma missão compartilhada por todos, mas levada à frente principalmente pelas bibliotecárias Eliane Perez – paranaense, especialista em Arte-Educação que passou por vários setores da casa e acaba de atualizar o Guia de Coleções da Divisão de Manuscritos — e Ana Lúcia Merege, mestra em Ciência da Informação e apaixonada por História Antiga e Medieval, que iniciou sua vida profissional em Lisboa e tem uma carreira paralela como escritora de ficção fantástica. Ambas já foram curadoras de exposições na Biblioteca e se empenham em agregar conteúdo às visitas técnicas, além de escrever artigos e textos de divulgação.

A Divisão conta ainda com outras duas bibliotecárias: Lúcia Carvalho, pesquisadora de História Natural e dos Viajantes, que participou da organização de vários catálogos e publicações, e Lívia Peixoto, graduada também em Gestão Ambiental, que foi estagiária em outros setores da instituição e trabalha principalmente com o atendimento aos leitores. Além disso, um convênio firmado há cerca de quinze anos entre a UERJ e o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) disponibiliza bolsas para que estudantes de História venham trabalhar na Divisão de Manuscritos, o que resultou em várias publicações, dissertações e teses de doutorado. Muitos desses antigos estagiários, hoje professores e pesquisadores, continuam a desenvolver seus estudos com base no acervo da Divisão — inclusive a distância, o que vem sendo cada vez mais facilitado pela inclusão dos documentos na BNDigital.

A Divisão de Manuscritos está aberta para receber os leitores de segunda a sexta-feira, das 10 às 18 horas.

Saiba mais sobre a Divisão de Manuscritos: http://www.bn.br/explore/acervos/manuscritos