Processos contra-hegemônicos na imprensa carioca, 1889/1930

Janeiro, 2006
Eduardo Granja Coutinho
Pesquisa
Imprensa, carioca

As primeiras décadas do século XX são compreendidas por historiadores da imprensa (pense-se, particularmente, em Nelson Werneck Sodré), como um período de transição do jornalismo brasileiro, sobretudo carioca. Período em que os pequenos jornais - empreendimentos individuais de estrutura simples e produção artesanal - cedem lugar à grande imprensa, de feição industrial. Observa-se, no entanto, um contraste entre o jornal como empresa capitalista, que está se tornando, e sua posição como servidor de um poder oligárquico com características pré-capitalistas.2 Como tantas outras instituições modernas no Brasil, a empresa jornalística inicia seu caminho sem ruptura com o passado. E esta será, em nossa história republicana, sua marca de origem.

O objetivo deste ensaio, contudo, é demonstrar que a despeito do caráter conservador do jornalismo brasileiro durante a República Velha, havia, no interior da imprensa burguesa carioca, uma tendência contra-hegemônica. Tendência que, em sua crítica às oligarquias, ao poder rural, ao voto de cabresto, à inexistência de cidadania no país, propugnava por um outro modelo de República, fazendo-se herdeira dos ideais de liberdade que efetivamente não se realizaram na República dos Coronéis. Apesar de sua heterogeneidade ideológica e da diversidade de formas, linguagens e gêneros pelos quais se manifestava (crônicas, reportagens, caricaturas, textos humorísticos, críticas literárias, notícias, artigos), tal tendência se unificava na expressão de um conteúdo crítico, e democratizante.

Pretende-se analisar o significado desse jornalismo marginal na história da cultura brasileira; delimitar sua extensão, sua força e sua influência intelectual e moral sobre o conjunto da sociedade. Trata-se de assunto pouco estudado. Apenas tangenciado pela historiografia da imprensa, o tema ganha alguma visibilidade nos ensaios dedicados à obra de jornalistas deplacés como Lima Barreto, Vagalume, Raul Pederneiras, Jota Carlos e Orestes Barbosa. Não se tem, no entanto, nesses ensaios, a perspectiva de conjunto de uma tendência jornalística alternativa. Até onde sabemos, a análise sistemática dos processos contra-hegemônicos na imprensa carioca nas primeiras décadas do período republicano ainda não foi realizada. O presente trabalho tem a pretensão de contribuir para esta análise.

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