12 de Março: Dia do Bibliotecário

Março, 2016
Renato Lessa
Artigo
Biblioteca, biblioteconomia, Palavra do presidente

Muitas datas e efemérides estão presentes na vida da Biblioteca Nacional. Cada acervo guardado nesta casa contém coleções virtualmente infinitas de temas e personagens, cada qual com direito à datação e à evocação próprias. Em meio ao conjunto incontável de tempos, temas e memórias abrigados, há uma data singular, a pertencente ao corpo profissional que dá o sentido mais fundamental de tudo que aqui se faz. Refiro-me ao dia 12 de março e ao que nele comemoramos: o trabalho de uma categoria profissional estratégica para o progresso cultural do país. Em termos mais particulares, homenageamos o precioso trabalho do corpo de bibliotecárias e bibliotecários da Biblioteca Nacional.

Cabe-me, mais do que cumprimentar cada um desses profissionais, por sua proficiência e entrega, destacar o papel estratégico do ofício para a guarda e o cuidado com o patrimônio bibliográfico brasileiro.

O Brasil é um país que vive sob pesada recessão cultural. Nossas estatísticas de leitura não nos têm dado razões para orgulho. Há anos, os cidadãos brasileiros, em grande maioria, converteram-se em telespectadores. A média nacional de exposição diária à televisão está em torno de 4 a 5 horas por pessoa. Para imensos segmentos da população, valores, modelos cognitivos e orientações políticas decorrem desse vínculo passivo, com pesados danos à capacidade de auto-reflexão.

A dispersão vertiginosa da cultura digital impôs, ainda, efeitos sobre nossa economia de tempo. O tempo da leitura, tempo lento por natureza, vê-se cada vez mais acossado por uma obsessão pela rapidez e pela velocidade das hiper conexões. Tempo de recordar o saudoso geógrafo e pensador Milton Santos e seu elogio do valor da “lentidão”: a lentidão do pensamento, da leitura, da dúvida, da formação da consciência crítica.

A Biblioteca Nacional deve ser uma casa de resistência. A ela cabe a guarda de parte fundamental do que é permanente no acervo cultural do povo brasileiro. Não há projeto de futuro que valha a pena se não guardar em si o permanente. As crises aparecem e desaparecem; novas crises virão. O que subsiste é o lastro civilizador guardado em casas tais como a Biblioteca Nacional.

Por esta razão é importante sempre enfatizar: a Biblioteca Nacional é uma instituição permanente do Estado brasileiro e como tal deve ser considerada pelos que, ao longo de sua história, têm a prerrogativa de cuidar de sua gestão. Tal dimensão estratégica diz respeito, de modo direto, ao corpo de bibliotecários que dá sentido às funções essenciais da Biblioteca. Não pode haver instituição estratégica sem o reconhecimento do caráter de carreira de Estado dos que compõem seu núcleo central. Tal núcleo é facilmente detectável por meio de uma lógica simples: não há sentido em uma Biblioteca sem bibliotecários; não há sentido na atividade de bibliotecários sem Biblioteca. É fácil perceber como cada um dos elementos desse par – Biblioteca e bibliotecários – é dependente do outro. Ambos, pois, são estratégicos para a guarda e a democratização da cultura bibliográfica brasileira.

Neste dia de homenagem, é tempo também de reafirmar o quanto as condições de trabalho de bibliotecárias e bibliotecários devem ser crescentemente melhoradas; o quanto seu prestígio, relevância e orgulho profissional devem ser reconhecidos, assim como suas aspirações de capacitação.

Muitos problemas assolam a vida brasileira. Ainda que ignoremos as soluções possíveis, parte delas decorrerá do trabalho das Bibliotecas e dos que a elas dão vida e sentido.