José Carlos Avellar (1936-2016)

Março, 2016
Renato Lessa
Artigo
Palavra do presidente

A vida cultural e intelectual brasileira sofreu perda inestimável na última sexta feira, 18 de março de 2016. Na precocidade de seus 79 anos de idade, morreu na cidade do Rio de Janeiro um dos maiores pensadores do cinema brasileiro, José Carlos Avellar. Mais do que excelente crítico de cinema, Avellar foi, antes de tudo, um pensador do cinema, atento de modo exemplar aos aspectos inerentes à linguagem cinematográfica e à potência do cinema como expressão estética, capaz de absorver todas as demais formas de arte.

Por mais de duas décadas, a partir dos anos 60, Avellar exerceu seu talento crítico e analítico, em suas inesquecíveis colunas de crítica cinematográfica do Jornal do Brasil. Ao mesmo tempo, teve papel fundamental, ao lado de Cosme Alves Netto, na gestão da Cinemateca do MAM (Museu de Belas Artes), uma das mais importantes instituições culturais do Rio de Janeiro. No próprio MAM, e depois na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, Avellar dedicou-se a ao ensino, em uma atividade que bem poderia ser definida como a de formação de uma cultura cinematográfica: como poucos, soube mostrar como se faz cinema e, sobretudo, como ver cinema e o que se vê com e pelo cinema. Sua memória prodigiosa, aliada à capacidade analítica invulgar, decompunha cada sequência, cada plano, cada enquadramento e convidava aos que desfrutaram da sua companhia a observar a vida, humanamente com olhos de cinema.

Além da copiosa série de artigos e ensaios que escreveu, José Carlos Avellar deixou-nos alguns livros fundamentais, entre os quais se destacam O Cinema Dilacerado (1986), A Ponte Clandestina: teorias do cinema na América Latina (1995), Deus e o Diabo na Terra do Sol: a linha reta, o melaço de cana e o retrato do artista enquanto jovem (1995) - talvez o que de melhor se escreveu a respeito de Glauber Rocha - , a cuidadosa edição de O Processo do Cinema Novo (1999), do grande crítico Alex Viany e O Chão e a Palavra (2007), livro chave para uma reflexão sobre cinema e literatura no Brasil.

A Biblioteca Nacional, nesta modesta homenagem, junta-se aos familiares e amigos de José Carlos Avellar na tristeza pela sua ausência. Em tempos sombrios para o pensamento, a perda do Avellar, além de dolorosa, soa como absurdo desperdício.

Renato Lessa
Presidente
Biblioteca Nacional