Obra fundadora da economia brasileira recebe o selo Memória do Mundo – Brasil

terça-feira, 17 de novembro de 2015.
Premiação
obras raras, Revistas e Periódicos, BNDigital, memória do mundo
O livro “Cultura e Opulência do Brasil”, publicado em 1711 por um jesuíta sob o pseudônimo André João Antonil, é a primeira obra impressa do acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional (BN) a receber o registro do programa Memória do Mundo – Brasil, da Unesco.

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Exemplar da obra “Cultura e Opulência do Brasil”, de André João Antonil.
Exemplar da obra “Cultura e Opulência do Brasil”, de André João Antonil.

A candidatura, submetida para análise do comitê nacional do programa Memória do Mundo em julho deste ano, foi fundamentada em aspectos relativos à importância da obra e à qualidade do exemplar do acervo da BN. “Conseguir o registro para uma publicação impressa é difícil, porque concorremos com manuscritos e outros documentos que constituem exemplares únicos”, explica Ana Virginia Pinheiro, chefe do acervo de Obras Raras. No caso deste livro, ela conta que existem apenas sete peças conhecidas no mundo, pois logo após sua publicação, no início do século XVIII, a edição foi proibida e a tiragem, destruída. Isso porque a Coroa Portuguesa considerou inoportuna a disseminação de informações estratégicas sobre as riquezas do Brasil, incluindo dados sobre os engenhos de açúcar, tabaco e gado, bem como a localização das minas de ouro e prata. “Só se salvaram os exemplares que tinham sido doados antes da proibição, e poucos se preservaram até hoje”, diz.

A peça que consta no arquivo da BN é um item de cofre, que foi microfilmado e digitalizado para facilitar a consulta pelos usuários. O original entrou no acervo em 1911, e sua origem, que pode ser traçada com segurança, foi documentada no pedido de registro encaminhado ao comitê da Unesco. Depois de pertencer a diversos colecionadores que a negociaram ou doaram, a peça acabou sendo incorporada à biblioteca de José Carlos Rodrigues, que foi adquirida por Julio Benedicto Ottoni e doada à BN.

A justificativa apresentada para o comitê do programa Memória do Mundo inclui, também, pareceres de quatro especialistas sobre a peça: o bibliófilo Hariberto de Miranda Jordão Filho, o pesquisador da USP Pedro Puntoni, o professor da Universidade Federal de Goiás Raimundo Agnelo Soares Pessoa e a professora aposentada da Universidade de Sorbonne, Andrée Mansuy-Diniz Silva, a maior autoridade mundial na obra de Antonil. O exemplar da BN é considerado um cimélio (peça extremamente rara).

Sobre a obra

“Cultura e Opulência do Brasil”, de André João Antonil, pseudônimo do jesuíta italiano João Antônio Adreoni, foi publicado em 1711, sendo recolhido por ordem de D. João V por ser considerado inconveniente para a Coroa Portuguesa. O livro reúne, em quatro partes, informações sobre as principais atividades econômicas da colônia (cana-de-açúcar, tabaco, mineração e pecuária), e por isso é considerada a obra fundadora do estudo da economia brasileira. Além disso, é um retrato detalhado dos hábitos e costumes da população da época, contando inclusive com uma recomendação do autor sobre o tratamento das pessoas escravizadas: os senhores de engenho deveriam adotar aquela que ficou conhecida como a “política dos três P" (pão, pano e pau). O conteúdo do livro possibilita estudos sobre escravidão, relações familiares, questões de gênero e muitos outros temas relacionados à vida no Brasil Colônia.

Sobre o programa Memória do Mundo – Brasil

A Unesco criou o programa Memória do Mundo em 1992, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a importância de se preservar e dar acesso ao patrimônio documental da humanidade. O registro para integrar o programa pode ser concedido em âmbito nacional, regional ou internacional. Anualmente, um comitê composto por notáveis em suas áreas de competência seleciona até dez peças para compor o acervo de obras inscritas no programa.

Mais informações sobre o programa da UNESCO

 

Exemplar da obra “Cultura e Opulência do Brasil”, de André João Antonil.
Exemplar da obra “Cultura e Opulência do Brasil”, de André João Antonil.