Entrevista com Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário na categoria Conto

quinta-feira, 8 de março de 2018.
Entrevista
Prêmio Literário, literatura, literatura brasileira, conto
O autor Marcelo Moutinho foi o grande vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional na categoria Conto no ano de 2017. A divulgação ocorreu durante cerimônia de premiação realizada na Biblioteca Nacional em 27 de novembro.

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Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Conto.
Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Conto.

Dando sequência à série de entrevistas com os autores e artistas vencedores, Marcelo responde algumas perguntas sobre a obra vencedora, Ferrugem, e sua relação com a cidade do Rio de Janeiro – recorrente em diversas histórias na obra.

Qual é a importância de conquistar o Prêmio Literário Biblioteca Nacional?

Trata-se de um dos prêmios culturais mais importantes do país. O fato de ter categorias específicas permite que abarque os diferentes gêneros literários sem sobrevalorizar um em detrimento de outros. E, evidentemente, conquistar um prêmio que leva o nome de Clarice Lispector é, para um contista, motivo de imenso orgulho e alegria.

O Rio de Janeiro é ‘pano de fundo’ ou matéria-prima para seus contos? Qual é a relação entre as situações narradas e a cidade em Ferrugem?

O Rio é mais do que pano de fundo, é praticamente um personagem das histórias reunidas no livro. As situações narradas nos 13 contos são como recortes da vida cotidiana no espaço urbano. Procurei enfocar sobretudo o ambiente da classe média baixa, pouco representada na literatura brasileira contemporânea. O livro é povoado por caixas de supermercado, cobradoras de ônibus, gandulas, o cover de Roberto Carlos que, em fim de carreira, trabalha num inferninho da Lapa... A costurar as narrativas, o tema da corrosão, a que o título Ferrugem faz referência.

A coluna de Marcus Faustini em O Globo indica que “os personagens dos contos de Moutinho não se localizam apenas num Rio nostálgico, seu tempo é o agora”. Qual é a sua visão sobre o tempo atual do Rio de Janeiro, o nosso “agora”?

O “agora” é um amálgama. Junta a visão idílica do Rio de ontem com a barra-pesada do momento atual, a “cidade-mulher” cantada por Noel Rosa e a cidade partida da expressão de Zuenir Ventura. Mas, para além da visão macro, me interessam muito mais as miudezas. Ou seja, os pequenos dramas que se encerram no âmbito do sujeito, das esquinas, dos afetos. A cidade que vive e toca em frente “apesar de”. 

Qual é o seu segredo para criar ambientes, personagens, situações e narrativas? As histórias contadas de certa maneira refletem situações vividas pelo autor? A observação do cotidiano da cidade é importante para o seu processo criativo?

Sem dúvida é importante. A circulação pelas ruas, e pelos diferentes cantos da cidade, serve como inspiração e matéria-prima. Acredito que as cidades têm legibilidade, um “discurso” que se forma a partir de fragmentos: a conversa de alguém no celular, o bordão de um camelô, o anúncio na traseira do ônibus. Muitas vezes um passante, uma cena, o fragmento de um diálogo, funcionam como elemento inicial para o desenvolvimento da trama. É a ficção bebendo, com sede, na fonte da vida.

Quais autores são sua principal fonte de inspiração?

Na minha formação, foram fundamentais autores como Franz Kafka, Albert Camus, Ian McEwan, Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Antonio Torres, Antonio Carlos Viana, Lygia Fagundes Telles, Murilo Rubião e Paulo Mendes Campos, só para ficarmos na seara da prosa. Poderia mencionar muitos outros, tanto prosadores como poetas. Cada um, a seu modo, estabeleceu um diálogo com aqueles que vieram depois.

27 de novembro de 2017 - O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, entrega prêmio a Marcelo Moutinho, vencedor na categoria Contos.
Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Conto.
Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Conto.
Marcelo Moutinho, vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Conto.